Moda, Imagem, Identidade e os Influenciadores Digitais

Por Bárbara Mandarano

O nascimento da moda é paralelo ao da classe burguesa e com a capacidade de liberdade e democracia no que diz respeito ao indivíduo. A moda representa à construção da identidade e esta diretamente ligada à imagem. A sociedade e seus indivíduos passam por processos de evolução acompanhados pela moda e pela representação da identidade. No mundo globalizado, pela internet, as pessoas recebem grande quantidade de informação e influência cultural o tempo todo, esta multiplicidade de influência faz com que as pessoas se desenvolvam e apresentem seus respectivos estilos.

Atualmente, além da explosão de influências e referências que surgem a partir da internet, também aparece uma nova categoria, totalmente construída no universo virtual, perfis conhecidos como influenciadores digitais. A discussão teórica que esta tendência traz, tem relação com a construção de uma imagem de si, de uma marca que possa ter valor de troca para empresas dos mais diversos segmentos.

No livro A identidade cultural na pós-modernidade, Stuar Hall afirma que a constituição de identidade acontece na relação com as pessoas quem mediam os valores, sentidos e símbolos. Ou seja, a cultura para o sujeito se desperta como identidade construída no processo de interação entre a sociedade e o sujeito, em um diálogo contínuo com o mundo. É a partir desta relação que o sujeito se projeta e incorpora imagens e símbolos que vão compor sua identidade.

            Na publicação de Maria Helena Pontes sobre moda, imagem e identidade ela aborda a sociedade contemporânea e globalizada, onde a tecnologia permite que a comunicação entre os mundos distantes aconteça em tempo real, fazendo uma conexão entre pessoas e lugares. Neste cenário é possível destacar um papel cada vez maior de influência das imagens do dia a dia.

            A comunicação, relações entre culturas, imagens e notícias assumem uma dimensão cada vez maior na era da informação, fazendo com que a identidade das pessoas sofra uma interferência constante do mundo externo. Neste universo em que a imagem tem domínio e a moda uma maior predominância sobre o comportamento social, é possível consumir a imagem e identidade através da moda. Todo mundo se identifica pelo desejo de ser em contraponto com o sentimento de pertencimento a determinado grupo, este caminho leva o indivíduo em direção ao consumo e a multiplicidade da própria identidade.

            Ainda falando sobre identidade, toda e qualquer identificação busca moldar uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado com o exemplo de modelo ideal. A identificação surge como uma característica comum onde se percebe as semelhanças entre uma pessoa e outra.

            As pessoas podem se identificar por tradições ou por questões sociais que são impostas ao que se espera de cada um, porém com o mundo globalizado e essa enxurrada de informação é possível ser autêntico, o que possibilita uma mudança no seu papel social e na sua identidade. A moda sempre foi ligada às novidades, trazendo coleções periódicas como aparato para atrair pessoas pelos desejos de consumo.

            Guilles Lipovétsky em O império do efêmero apresenta o surgimento da classe burguesa e a relação com um processo de luta de classes na busca por prestígio e aparência. A burguesia com seu enriquecimento busca tornar evidente seu poder se vestindo tal qual a nobreza. Entende-se por um jogo de representações visuais que a roupa constrói, gerando uma moda que se reinventa e se faz circular.

            Para Maria Helena Pontes, a moda é um modelo de representação a ser seguido, se liga a outros assuntos na tentativa de construir significações, ou fazer uso delas uma vez que as significações já foram atribuídas às pessoas anteriormente. Os símbolos da moda transmitem muito mais que as roupas em questão, exibindo-se como um modelo de referencia de uma época, modelo de valores que se oferecem á identificação como modelo ideal de estilo de vida.

            Através de roupas, sapatos, acessórios, maquiagens e comportamento uma pessoa pode usar sua aparência em postagens relatando o dia a dia da sua vida e projetando suas ideias e valores. Cada blogueira expressa seu ponto de vista e a forma como se constrói através da moda, transformando sua rede social em um espaço que expressa sua própria identidade, espaço que se torna uma mediação entre as tendências da moda e a construção de uma moda de múltiplas referências e identidades construídas diariamente por pessoas comuns.

No artigo Influenciadores digitais: o Eu como mercadoria da pesquisadora Isaaf Karhawi, é retratado que a noção de influenciador digital passou por novas roupagens , desde prosumidor (neologismo criado com a junção dos termos produtor e consumidor) até curador de informação.

Shirky, em seu livro “A cultura da participação” (2011), fala sobre a possibilidade oferecida pelas mídias sociais digitais de um internauta ser também produtor, a revolução esta centrada na inclusão de amadores como produtores, em que não precisamos mais pedir ajuda ou permissão a profissionais para dizer coisas em público.

Um influenciador produz com frequência e credibilidade conteúdos temáticos, neste processo, ele deixa de ser um internauta comum e passa a ser encarado como uma mídia autônoma, uma marca.

Ainda para Isaaf Karachi, as blogueiras de moda são precursoras desse novo estilo profissional na área da comunicação, além de levar informações sobre moda e beleza para pessoas afastadas dessas informações que são típicas por revistas especializadas da área, elas também constroem comunidades de leitores e seguidores que confiam em suas opiniões. As pessoas se tornam cada vez mais próximas e humanizadas de toda a informação com a qual tem contato diariamente.

Roberty Henry Srour em Ética empresarial: a gestão da reputação”, explica que a reputação esta diretamente ligada à confiança coletiva, “à legitimidade que se conquista pelas políticas praticadas ou pelas ações cometidas”, pontua o autor. As mídias sociais e digitais facilitam os processos de reputação, pois permitem moldar as ações praticadas no espaço digital de acordo com as imagens de si que se pretende divulgar.

            A pergunta que pauta todas essas questões é bem simples; Por que nos interessamos pela vida e imagem do outro? Quem ampara esse modelo de influenciadores? Estamos falando da mesma sociedade que posta e curte selfies, que faz publicações do almoço, do jantar, da academia que frequenta. Para Karhawi, essa é uma sociedade baseada na imagem e na repercussão dessa imagem no ambiente digital.

            Empresas procuram influenciadores para conquistar os públicos e os influenciadores também procuram marcas que lhe agreguem valor. É importante ressaltar que o trabalho de influenciador é uma união entre duas marcas, por essa razão a liberdade de criação é essencial quando se trata de produtores de conteúdo digital e não com modelos e celebridades.

            Os influenciadores são mídias autônomas e têm uma imagem de si construída sobre uma estrutura sólida de reputação e legitimidade no espaço digital. Eles se aproximam mais do consumidor, o que representa melhor a era globalizada, é a representação de um novo tempo, uma nova comunicação de moda.

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