Moda&Doenças

Por Bárbara Mandarano

Não é a primeira vez que a Indústria Fashion é interrompida por uma pandemia, e sabemos que a Moda consegue elaborar diretrizes nas mais diferentes épocas, interagindo com o momento que acontece na sociedade, mesmo que seja a luta contra alguma doença. Em outros momentos da história o universo das tendências e das coleções já passou por situações de pandemia, em cada uma delas surgiram novos padrões que foram comercializados e consumidos, muitos mantidos até mesmo após o fim de cada período. 

Temos exemplos como a tuberculose, que foi a primeira epidemia a ditar padrões estéticos na Era Vitoriana. A Peste Negra, que criou a necessidade da produção de roupas de proteção, praticamente peças assustadoras e assombrosas. Os corpos magérrimos como estética padronizada no final dos anos 90, e agora, os dias de luta contra a COVID-19. 

Não é a primeira vez que a Indústria Fashion é interrompida por uma pandemia, e sabemos que a Moda consegue elaborar diretrizes nas mais diferentes épocas, interagindo com o momento que acontece na sociedade, mesmo que seja a luta contra alguma doença. Em outros momentos da história o universo das tendências e das coleções já passou por situações de pandemia, em cada uma delas surgiram novos padrões que foram comercializados e consumidos, muitos mantidos até mesmo após o fim de cada período. 

Temos exemplos como a tuberculose, que foi a primeira epidemia a ditar padrões estéticos na Era Vitoriana. A Peste Negra, que criou a necessidade da produção de roupas de proteção, praticamente peças assustadoras e assombrosas. Os corpos magérrimos como estética padronizada no final dos anos 90, e agora, os dias de luta contra a COVID-19. 

No estudo realizado por Leandra Batista e Cláudia Santos, sobre o desenvolvimento de um programa de controle de tuberculose na cidade de Duque de Caxias, a doença comentada existe desde o inicio da evolução humana, os primeiros relatos de seu surgimento foram no Egito antigo onde atingia mais os negros e os índios, pois além de escravizados, as condições de trabalho, moradia e higiene eram péssimas, o que fazia com que a enfermidade se espalhasse com mais facilidade. 

Por um longo período a tuberculose foi romantizada pelos poetas, artistas e intelectuais da literatura, eles consideravam que a doença atingia a sensibilidade da alma. Os artistas e poetas viviam numa nostalgia, acreditando que atingiam seus melhores momentos de inspiração, a doença os deixava em momentos melancólicos de profunda tristeza e dor, afirma Ângela Pôrto em sua obra Representações Sociais da Tuberculose. 

Com a Moda não foi diferente, na Era Vitoriana, em meados do século XIX, foi bastante perceptível os padrões estéticos definidos a partir da tuberculose, o semblante febril e apático criavam idéia de beleza. A pele branca, bochecha rosada, boca vampiresca e olhos profundos eram considerados na época um visual chic.

Nas roupas era possível observar mudanças decorrentes da doença, os vestidos eram decotados e o colo estava sempre à mostra. Quando se entendeu que a doença atacava as vias respiratórias e a garganta precisava de proteção, as golas altas apareceram, e os babados foram estrategicamente localizados no pescoço.

Outro detalhe importante era a calda extensa dos vestidos, que se arrastava por toda parte, levando sujeiras e germes para dentro das casas. Logo que tiveram essa percepção, encurtaram os comprimentos trazendo assim uma evidência para os sapatos.

Outra pandemia que ocorreu entre 1347 a 1351 foi a Peste Negra, esta foi considerada uma das mais violentas pragas que atacou a humanidade. De acordo com Paola Churchill, no site Aventuras na História, a bactéria causadora da doença, Yersinapestis, teve origem na China ou na Ásia Central, viajou alojada nos intestinos das pulgas que parasitavam os ratos, animais que eram uma praga comum para época, vivendo nos porões das embarcações. 

A vestimenta usada por médicos era sinistra, com proteção da cabeça aos pés, ainda usavam uma espécie de máscara de bico que chamava muito a atenção. A maioria dos casos era presente em toda a Europa, porém o visual icônico se tornou destaque na Itália, local onde mais tarde, essa vestimenta se tornou uma fantasia para festa e comemorações do teatro e do carnaval.

Ao final dos anos 90, o culto à magreza excessiva era o padrão de beleza da vez, a Moda investia com força em corpos magros, com aparência que remetiam ao estado de enfermidade. A modelo Kate Moss declarou que um de seus lemas na vida que não havia nada melhor do que ser magra. 

Situações extremas aconteceram; como o caso da modelo brasileira Ana Carolina Macan, falecida em 2006, aos 21 anos, em decorrência da anorexia nervosa. Depois desta notícia, a mídia nacional abriu espaço para o debate sobre o peso e a saúde das modelos.

A gripe espanhola foi outra pandemia que se espalhou pelo mundo, a doença atacou a sociedade entre 1918 e 1919, o surto que ocorreu em meio a Primeira Guerra Mundial se espalhou rapidamente pelo mundo. 

Coco Chanel foi uma estilista de grande destaque após a guerra, ela inventou como as mulheres deveriam se vestir, e representava a nova figura feminina, independente, que desconstruía padrões e regras. O mundo inteiro vivia um período desfavorável que ia além dos campos de combate, causada pelo vírus influenza a (H1N1), a gripe espanhola tomou proporções de pandemia rapidamente. 

Não é fácil pensar em Moda quando a humanidade está enfrentando a ameaça de conflitos armados, catástrofes naturais ou pandemias como a que vivemos hoje. Mas acima de tudo, a Moda é uma afirmação do seu tempo, segue as transformações do mundo e as rupturas que o acompanham nos momentos mais sombrios.

A revolução fashion aconteceu quando as mulheres precisaram assumir papéis, até então considerados masculinos, como trabalhar em fábricas de aviões e guiar bondes, por exemplo. Para evitar acidentes, as roupas apertadas e pesadas, foram trocadas por uniformes e peças práticas. Na gripe espanhola, assim como nos dias de hoje, em momento de enfrentamento contra a COVID-19, as máscaras eram usadas por pessoas para se protegerem ao sair de casa.

Em tempos de Corona Vírus os impactos estão sendo profundas as transformações que vão marcar este momento com um novo processo na criação de hábitos, mudanças irão acontecer em toda sociedade. No artigo passado, sobre “O que estamos ofertando”, abordamos o fato do universo da Moda estar passando por um momento de ressignificação, promovendo produtos ofertados com honestidade e identidade.

Porém, como a Moda historicamente se apropria e se afirma de períodos e seus acontecimentos, a máscara que inicialmente era só cirúrgica, neste momento ganha espaço, e já tem empresas comercializando máscaras por preços excessivos com atrativos como cores, tecidos, estampas e até pedrarias. 

A máscara já pode ter se tornado o acessório da vez, além da utilidade, ela se tornou simbólica, por representar situações controversas, o cuidado, o senso de comunidade e também o medo e afastamento.

Bibliografia:

encurtador.com.br/lsOSZ

encurtador.com.br/cwAIV

encurtador.com.br/MNRTU

encurtador.com.br/eqsIN

Hora da verdade

A moda é uma forma de apresentação para o mundo, e partir dela o que estamos ofertando? Já fizeram este questionamento? Alguns talvez sim, outros não. Chegou o momento de refletir e falar sobre isso.

Moda é identificação, inserção e também exclusão. Diante disso, nós adquirimos o produto pensando como ele vai nos representar, nossa busca é por apresentar aquilo que temos como relevante, que julgamos importante, a Moda nos envolve exatamente nesta teia de sentidos, perspectivas e atitudes.

A COVID -19 gerou um choque para o mercado, muitas regras e estruturas estão desmoronando, e aquelas mudanças que estavam sendo anunciadas agora vão ser impostas para toda a indústria. Nessa nova realidade, mais do que nunca, os produtos serão ofertados com honestidade e permeados com uma identidade única para as pessoas.

“Nessa nova realidade, mais do que nunca, os produtos serão ofertados com honestidade e permeados com uma identidade única para as pessoas.

Existe uma desigualdade social de grande relevância entre quem produz e quem consome. O mercado nos transformou de cidadãos para consumidores, é preciso humanizar este processo, se aproximar daquilo que realmente quer ser transmitido a partir da disponibilização do produto. Na Tricoteen o trabalho de relacionamento é uma das nossas maiores virtudes pois nos aproximamos das pessoas que se identificam com nossa marca, nosso universo é o mesmo, e isso sempre fez com que nossas relações fossem sólidas e verdadeiras.

Estaríamos entrando em uma revolução digital? O mundo pela interface? De acordo com Igi Ayedun, um dos talentos de maior destaque na Moda atual, “chegou o futuro da experiência, existe uma nova forma de se questionar presencialidade, que é experienciar sem precisar estar presente”. A imagem da Moda vai precisar de um processo de pessoalidade e espontaneidade muito maior a partir de agora.

E quando pensamos em estações? As imposições de calendários, de tendências e fast fashion, como fica tudo isso? A Moda sem estação transformaria por completo a indústria, trazendo ao público algo atemporal, um consumo responsável. Classificar a Moda como atemporal exige mais pesquisa, maior profundidade de conceitos, práticas e produtos que mostram que a Moda não deve se desfazer rapidamente com o passar do tempo.

Pra o estudioso Barthes que escreveu a obra “Sistema da Moda” em 1967, toda forma de comunicação vive dentro de uma estrutura, esta estrutura funciona porque vivemos em sociedade que nada mais é que uma estrutura social que regula as normas. A Moda acontece da mesma forma, estruturando conceitos e estabelecendo regras.

Será este momento em que vivemos um recomeço? Vai ser necessário desconstruir tudo que foi imposto até aqui, criar novos hábitos e comportamentos, sem tabus, preconceitos, amarras e imposições. A Moda não pode mais viver em um universo paralelo, deslocado da sociedade, distante da verdade social.

Upcycling – A nova era da moda

Conhecido como uma reutilização criativa, pode ser definido como um processo de transformação de algo descartado em algo novo, conservando suas características e composições.

Por Barbara Mandarano

“Pare de pensar que ninguém se importa, pois certamente alguém vai te ouvir e valorizar o que você faz”

Caique, 25 anos, capricorniano, é um jovem empresário no ramo do Upcycling que também atua como Stylist e Produtor de moda além de criar conteúdos nas redes sociais.

Sem Rótulos • Desde criança Caique teve seu olhar voltado para o mundo da moda, mas até os 18 anos isso era um segredo. Dentro do espaço social em que viveu na infância e adolescência, moda era considerado algo só para mulheres, demonstrar interesse por esse assunto poderia torná-lo alvo de piadas.

Um tempo depois quando tornou público sua orientação sexual é que realmente conseguiu viver esse sonho de estar envolvido no mundo da moda. Ainda assim é recente o estilo marcante que carrega atualmente, depois de um tempo aprimorando idéias é que se “fixou” a essa estética.

“Quem eu era há dois minutos atrás, já mudou” , afirma Caique ao tentar se definir. “Eu acho me definir algo tão complicado, pois eu acabo de escrever o que sou e logo já me questiono que preciso melhorar isso”. Apesar de jovem, Caique tem uma vasta experiência com moda editorial, porém no último ano teve muitos clientes como Personal Stylist, ajudando pessoas a se encontrarem dentro da moda. Entre alguns desejos do criador, um deles é ajudar as pessoas a entenderem que existem inúmeras possibilidades em roupas que elas já consideram descartadas.

“Eu acho me definir algo tão complicado, pois eu acabo de escrever o que sou e logo já me questiono que preciso melhorar isso”.

No atual cenário com a chegada do Coronavírus questionamentos sobre o consumo tem ocupado a cabeça das pessoas, e o desejo por determinados produtos já não traz mais felicidade, pois as prioridades estão mudando, Caique afirma que tem acompanhado marcas com ações importantes na ajuda do combate a pandemia,  através de vendas com parte do lucro revertidas para ajudar os mais necessitados e confecções de máscaras como doação,  “acredito que o caminho para marcas conseguirem se segurar é devolver o consumo para a causa, entende? Eu, como consumidor, muitas vezes consumo pensando no que estou ajudando e acredito que nessa era pandêmica as pessoas estão pensando bastante por esse lado”.

O empresário analisa que ainda estamos dando os primeiros passos para o consumo consciente, e que os novos consumidores embora tenham poder de investimento ainda não dominam essa economia. Essa mudança é parte de um processo que as pessoas estão iniciando, “eu vi muito dessa mudança em mim, há alguns anos eu comprava algo toda vez que eu ia ao shopping, não estava nem aí, não me importava de onde aquela peça vinha. Hoje eu mal entro em shopping, não compro de fast fashion e procuro não consumir de grandes marcas.” Afirma Caique.

“Eu, como consumidor, muitas vezes consumo pensando no que estou ajudando e acredito que nessa era pandêmica as pessoas estão pensando bastante por esse lado”.

Analisando de perto o universo da moda, esse novo momento trouxe reflexões e mudanças imediatas na maneira de fazer moda, a nova estética de consumo vai passar por grandes transformações para se manter no mercado, e é fundamental o papel que os designers e criadores vão ter daqui pra frente. Para Caique, “o papel dos designers é fundamental pra uma marca mudar sua forma de produção e gerar um consumo mais saudável, os criadores ainda precisam entender o poder de influência que tem nas mãos”.

O Upcycling tem um papel fundamental na moda e no planeta, não só reduzindo o consumo de novas matérias-primas durante a criação de novos produtos como de conscientizar as pessoas sobre o que elas estão comprando.  “Se trabalharmos hoje, pra mudar o mindset de consumo das pessoas, no futuro elas vão parar e olhar pra dentro de suas casas e ver o que podem fazer com o que tem ao invés de consumir algo novo, o que vai acabar criando um ciclo de produção/consumo mais saudável”, destaca o criador.

O trabalho de Caique esta fundamentado em um olhar para o futuro, em fazer uma grande revolução na moda e no comportamento das pessoas, “a intenção da UPCYCLED CO é conscientizar para que todo mundo consiga tomar uma decisão de compra sábia”.

@upcycledcompany

https://www.upcycledco.com.br/

@caiquejota