Alimentação Plant Based

Ingredientes


• 2 copos de aveia.


• 1 copo de tâmara (deixada de molho em agua por 15 minutos)


• 2 colheres de sopa de cacau em pó


• Meio copo de chocolate amargo.

Como fazer:

  • Utilize somente as tâmaras após ficarem de molho, a água deve ser dispensada.
  • Bata todos os ingredientes no processador até formar uma massa homogênea (talvez seja preciso adicionar um pouco de água se a massa estiver muito seca, mas adicione aos poucos e com cuidado para não passar do ponto)
  • O ideal é que se forme uma massa homogênea e fácil de enrolar.
  • Pegue uma colher de sopa da massa e faça bolinhas.

Opcional: Molhe o topo das bolinhas em chocolate derretido e jogue sementes ou castanhas de sua preferência no topo. Leve para geladeira para que as bolinhas fiquem firmes e o chocolate endureca e se torne crocante.

Leve de lanchinho para o trabalho, utilize como pré treino ou quando sentir vontade de doce e seja feliz!

O real proposito do Consumo Consciente

Por Caique Jota

Quando a gente pensa em consumo consciente, nossa mente tende a ir diretamente para Moda Sustentável, Eco-friendly, mas e se eu te disser que consumo consciente não é só isso?

A ideia de consumo consciente é trazer informação para nosso Poder de Compra. Por exemplo, quando a gente fala “enjoei das minhas calças jeans, vou comprar uma nova”, não estamos só comprando aquela calça, a gente está fortalecendo a venda de um dos produtos mais prejudiciais ao meio ambiente. Dados da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do Produto, apontam que uma única calça jeans consome 4 mil litros de agua para produção e durante seu ciclo de vida, o que equivale a emissão de 33,4kg de carbono (valor estimado pra uma viagem de carro de 111km).

Um outro exemplo fora dessa questão ambiental é a gente consumir de marcas sem saber quem está por trás dela, as vezes nós estamos fortalecendo um nome que não faz nada de bom para nossa sociedade e ,muitas vezes, vão contra coisas que a gente acredita.

Por muito tempo eu fui a pessoa que não entendia o que era Consumo Consciente e Poder de Compra, até que um dia, no meio de uma ida (totalmente desnecessária) ao shopping, me questionei uma série de coisas, como porque eu compro roupas com tanta frequência e porque eu não consigo entrar em uma loja e sair de mão abanando.

Não sabia a resposta de nada disso, afinal, raramente a gente sabe a resposta pra tudo que a gente se questiona.

Como bom Sherlock que sou, fui investigar o meu Eu. Fui tentar entender o que me motivava a consumir do jeito que eu consumia. Eu não nasci e falei “vou consumir de forma consciente”, muito pelo contrário, eu nasci e cresci dentro de uma família que comprava por comprar, comprava por capricho e não por necessidade, então percebi que o consumo sem controle estava na minha “cultura pessoal”, na minha criação. Além disso percebi que o que contribuiu a tudo isso foi o que eu cultuava na minha infância e adolescência.

Na minha época não existiam séries e desenhos que retratavam o personagem cool comprando em brechó, por exemplo. Muito pelo contrário, em desenhos, filmes e séries, o personagem legal e desejável era descrito como a pessoa que não repete roupas, que tem condições de ter tudo novo sempre, que sai pra fazer compras com seus amigos e, afinal, qual adolescente não quer ser legal e desejável? Eu queria me encaixar nesse padrão, eu queria ser popular, porque o personagem “não popular”, que não tinha condições financeiras, que não tinha como ter o tênis mais novo de todos, sofria por simplesmente não fazer parte do padrão. Eu não queria sofrer e é muito louco a gente pensar em retrospecto e ver tudo que me influenciou a ser como sou, convido todos a fazerem isso. 

Quando me questionei sobre meus hábitos de consumo, eu já tinha noção de que não era algo saudável pra mim, mas não tinha criado consciência ainda sobre como isso afetava as coisas ao meu redor.

Um grande aliado da Dúvida é a Informação, então corri atrás dela. Fui atrás de entender o que de fato eu estava fazendo quando ia em uma loja de departamento (fast fashion) e comprava várias roupas. Antes de toda a questão ambiental, eu vi que existia muitas lojas que as questões morais iam pro lado totalmente oposto do que eu acredita. Vi casos de fast fashions envolvidas com trabalho escravo, vi marcas envolvidas em diversas situações racistas e homofobicas. Observei, por exemplo, lojas que no mês do orgulho LGBTQIA+ faziam varias roupas pra homenagem ao movimento, mas durante o resto do ano inteiro, faziam nada. Todas essas informações, ao longo das pesquisas, foram me dando um sinal gigante de alerta e pensei “caramba, investi meu dinheiro em empresas que não fizeram nada de útil com ele, além de criar mais e mais roupas” e ai que entrei na questão ambiental.

Nas pesquisas que fiz na época vi uma coisa que se a gente pensar mais a fundo, é obvio, mas eu não tinha pensado a fundo, né? Eu só queria um look novo. Pois é, nessa de querer um look novo, eu esqueci de pensar que roupas não são feitas de vento, mas sim de algodão e plástico (que utiliza petróleo para composição) e tudo isso, demanda impactos no meio ambiente. Vestir uma camiseta de algodão, não custa só, em média, R$49,90. Custa impactos no solo, por conta de todos os produtos químicos para o plantio, muitas mãos para produção (possivelmente muitas dessas mãos não recebem o valor justo para o trabalho feito), além de cerca de 3 mil litros de agua.

A Industria da Moda não é inofensiva ao mundo, muito pelo contrario, ela foi considerada a segunda indústria mais poluente para o meio ambiente, perdendo apenas para a Industria Petrolífera. Além de processos de produção que prejudicam o meio ambiente, a Industria descarta anualmente cerca de US$500 bilhões de roupas, roupas essas que não são recicladas e vão pra aterros. Ou seja, além de problemas na produção, está havendo, claramente, uma produção desnecessária para o consumo real das pessoas.

A gente, como consumidor, nos tornamos mal acostumados. Para  comprarmos algo, precisamos ver 10 variações de uma única camiseta. Queremos opções, quantidade e adivinhem?! Isso é exatamente o que a Industria da Moda está nos fornecendo, porém por conta dessa nossa necessidade, a Industria já não se sustenta, os recursos estão acabando.

“Mas Caique, o que eu faço então? Paro de comprar?”, não, eu não estou falando para você deixar de consumir, eu estou falando para você ressignificar a sua forma de consumo. Se questionar se você precisa daquilo, se você está consumindo de uma loja/marca que faz algo de bom pra sociedade, se questionar se há outras formas de consumo além de ir comprar peças novas no shopping. Eu, por exemplo, parei de consumir de shopping, hoje compro roupas de brechós, customizo roupas antigas, crio coisas novas a partir de coisas velhas, porque além de ajudar uma pessoa ou loja menor, estou dando um novo ciclo de vida a uma peça de roupa, estou fazendo com que todo o processo de fabricação dela passe a valer mais a pena.

A gente precisa olhar para o ato de comprar como um Poder. Você pode fazer a sociedade melhor só por não consumir algo.

Por Caique Jota

Revisão de texto de Camila Cruz

Bibliografia:

5 FILMES E SÉRIES SOBRE A HISTÓRIA DOS PRETOS

Por Thiago Medrado

Olá Gente, sou eu, Thiago Medrado :), a pedido da Tricoteen, dessa vez com uma nova proposta à apresentar mas com um assunto que desde o último post, dias atrás, continua pertinente, na verdade pertinente desde séculos atrás, gerações atrás – Racismo. Porque tem muita gente que crê que não é mais a mesma coisa, mas ele está presente no século XXI também. A gente crê que não existe mais tronco para o negro, mas na verdade “o tronco” existe, só não mais como o conhecemos. Por isso separei 5 filmes e séries (maioria da Netflix) que vão ensinar e sensibilizar vocês com o #BlackPower, trazendo um conhecimento sobre a vida dos pretos de forma leve e descomplicada .

Obrigado, Tricoteen, por mais uma vez nos dar voz de uma forma tão linda e sensível, trabalho de ouro. No demais, Entrem nessa jornada, apreendam, coloquem em prática e compartilhem. Até a próxima pessoal! ♥

  • 1 – Todo Mundo Odeia O Chris
  • 2 – Olhos Que Condenam
  • 3 – Cara Gente Branca
  • 4 – A 13ª emenda
  • 5 – Corra

Curadoria Inteligente

Por Bárbara Mandarano

Muito tem se falado sobre consumo consciente, desapegar de roupas e acessórios que estão parados em casa é uma ação que vem ganhando força, espaço e influenciando pessoas de todo mundo em um movimento que não pode parar. Para preservar essa prática e levá-la ainda mais longe, projetos surgem mesclando o consumo de moda a um impacto social mais efetivo.

Brechós e bazares tem feito um trabalho de arrecadação de donativos com lucro total ou parcial em beneficio de instituições que ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade. Além da ação de arrecadar fundos, essa atividade contribui para o aumento e consciência no consumo de moda.

Afinal o que é moda consciente?

De acordo com o site Etiqueta Única, a moda consciente é quando o consumidor manifesta em suas compras uma preocupação com questões ambientais e sociais que envolvem a produção em massa, esse consumidor esta em busca de peças que tenham significado.

Já a moda sustentável ou eco fashion, esta ligada a forma como os artigos de moda são produzidos e tem a preocupação em usar métodos de produção que não produzam ou diminuam o impacto ambiental.

Os novos consumidores estão em busca de produtos duráveis, como falamos anteriormente na primeira edição da revista no texto “Hora da Verdade”, a moda sem estação transformaria por completo a indústria, trazendo ao público algo atemporal, um consumo responsável. Classificar a Moda como atemporal exige mais pesquisa, maior profundidade de conceitos, práticas e produtos que mostram que a Moda não deve se desfazer rapidamente com o passar do tempo.

Onde surgiu o primeiro brechó do Brasil?

De acordo com o escritor Antônio Houaiss, em Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a primeira loja de venda de roupas e objetos de segunda mão no Brasil, surgiu no Rio de Janeiro no século XIX, fundada por um comerciante português chamado Belchior. Originalmente, assim eram conhecidas as lojas de roupas e objetos usados que com o tempo acabou se transformando em Brechó.

Em um estudo sobre o consumo de roupas de brechó da cidade de Porto Alegre, a pesquisadora Lígia Helena Krás afirma que é preciso considerar que na Europa, os brechós, ou Vintage Clothings Store, são lojas especificas de roupas e acessórios de época apenas, diferente das Second Hand Store, que vendem roupas usadas sem especificação de épocas.

No Brasil ainda não existe essa diferença clara, a prática do brechó como loja de roupas antigas é muito recente.

Alguns elementos ligados ao que um brechó representa além da origem das peças, são questões relacionadas à sujeira, doença, energia e até mesmo sexo. A origem dessas peças gera questionamento em algumas pessoas que não aprovam a ideia de comprar roupas que não sabem a quem pertenceu pelo fato desse alguém ter morrido visto como algo mórbido, justificando que mesmo lavando as roupas estão impregnadas energeticamente.

De acordo com a pesquisadora Lígia Helena Krás, o preconceito com a roupa não é por ser antiga, mas por ser usada.

Foto: Pinterest

Ela ainda afirma que convém ressaltar que novo, velho, usado e antigo são classificações relativas. Pode ser um vestido novo de 1960, ele será novo se nunca tiver sido usado, essa é a relação do novo com o usado. E pode ser um vestido velho de 2005, se ele tiver sido usado muitas vezes. Sendo assim, é importante deixar claro que o preconceito pelo velho, usado, não deixou de existir, nem mesmo por quem gosta muito de roupas antigas. O preconceito com o antigo existia mais e agora por uma questão de estratégia do mercado da moda, tem diminuído. Antigo se refere a épocas passadas, que pode ser antigo e novo, caso tenha sido pouco usado ou mesmo guardado sem nunca ter sido usado.

Não vale ter preconceito, experienciar brechós pode ser muito interessante além de divertido, vai ter sempre aquela peça perfeita esperando por você. A moda precisa ser pensada de maneira mais consciente, no momento em que se compra uma peça ou quando se descarta, pois vale lembrar que dividimos o mesmo planeta e precisamos nos responsabilizar pelos nossos consumos.

Playlist – #VidasNegrasImportam

Por Thiago Medrado

Olá, Gente. Cortei o “tudo bem?” de sempre, porque diante do momento que estamos vivendo se você está bem, repense suas ideologias. Me chamo Thiago Medrado, 22, sou influencer, estudante, fã de Lana Del Rey e acima de tudo preto. Nos últimos dias os veículos de notícia tem notificado a indignação popular, vinda de pretos ou não, com o racismo. Tenho observado o trabalho da Tricoteen a um tempo e sei o quanto é uma marca que tenta cada vez mais se aproximar de pautas tão importantes quanto essa. Dessa vez eles me convidaram para montar uma Playlist super especial, preta e com conteúdo que te fará pensar nessa quarentena.

Música historicamente propaga ideias, cria concepções e modula pensamentos. De Elvis à Pabllo, preenche nossos ouvidos, nos faz “enxergar” mesmo sem o sentido visual. Assim como a música é histórica e enraizada na civilização o racismo também é, e a luta contra ele também – Por isso separei músicas, que mais que reflexão, empoderam pretos e todos que lutam por dias sem RACISMO.

1. Childish Gambino – This Is America

2. Beyoncé – Formation

3. Michael Jackson – Black Or White

4. APES**T – THE CARTERS

5. Hey Joe (Participação especial de Marcelo D2)

6. NEW MAGIC WAND – Tyler, The Creator

7. Kendrick Lamar – Alright

8. Common, John Legend – Glory

9. Bia Ferreira – Cota Não é Esmola | Sofar Curitiba

10. Freedom – Beyoncé

Esse é só um fragmento de uma cultura tão rica e perseguida, espero que vocês gostem e se empoderem com ela. Leiam, assistam, escrevam, escutem – A luta contra o Racismo é de todos – Lembrem-se que #VidasNegrasImportam.

Moda, Imagem, Identidade e os Influenciadores Digitais

Por Bárbara Mandarano

O nascimento da moda é paralelo ao da classe burguesa e com a capacidade de liberdade e democracia no que diz respeito ao indivíduo. A moda representa à construção da identidade e esta diretamente ligada à imagem. A sociedade e seus indivíduos passam por processos de evolução acompanhados pela moda e pela representação da identidade. No mundo globalizado, pela internet, as pessoas recebem grande quantidade de informação e influência cultural o tempo todo, esta multiplicidade de influência faz com que as pessoas se desenvolvam e apresentem seus respectivos estilos.

Atualmente, além da explosão de influências e referências que surgem a partir da internet, também aparece uma nova categoria, totalmente construída no universo virtual, perfis conhecidos como influenciadores digitais. A discussão teórica que esta tendência traz, tem relação com a construção de uma imagem de si, de uma marca que possa ter valor de troca para empresas dos mais diversos segmentos.

No livro A identidade cultural na pós-modernidade, Stuar Hall afirma que a constituição de identidade acontece na relação com as pessoas quem mediam os valores, sentidos e símbolos. Ou seja, a cultura para o sujeito se desperta como identidade construída no processo de interação entre a sociedade e o sujeito, em um diálogo contínuo com o mundo. É a partir desta relação que o sujeito se projeta e incorpora imagens e símbolos que vão compor sua identidade.

            Na publicação de Maria Helena Pontes sobre moda, imagem e identidade ela aborda a sociedade contemporânea e globalizada, onde a tecnologia permite que a comunicação entre os mundos distantes aconteça em tempo real, fazendo uma conexão entre pessoas e lugares. Neste cenário é possível destacar um papel cada vez maior de influência das imagens do dia a dia.

            A comunicação, relações entre culturas, imagens e notícias assumem uma dimensão cada vez maior na era da informação, fazendo com que a identidade das pessoas sofra uma interferência constante do mundo externo. Neste universo em que a imagem tem domínio e a moda uma maior predominância sobre o comportamento social, é possível consumir a imagem e identidade através da moda. Todo mundo se identifica pelo desejo de ser em contraponto com o sentimento de pertencimento a determinado grupo, este caminho leva o indivíduo em direção ao consumo e a multiplicidade da própria identidade.

            Ainda falando sobre identidade, toda e qualquer identificação busca moldar uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado com o exemplo de modelo ideal. A identificação surge como uma característica comum onde se percebe as semelhanças entre uma pessoa e outra.

            As pessoas podem se identificar por tradições ou por questões sociais que são impostas ao que se espera de cada um, porém com o mundo globalizado e essa enxurrada de informação é possível ser autêntico, o que possibilita uma mudança no seu papel social e na sua identidade. A moda sempre foi ligada às novidades, trazendo coleções periódicas como aparato para atrair pessoas pelos desejos de consumo.

            Guilles Lipovétsky em O império do efêmero apresenta o surgimento da classe burguesa e a relação com um processo de luta de classes na busca por prestígio e aparência. A burguesia com seu enriquecimento busca tornar evidente seu poder se vestindo tal qual a nobreza. Entende-se por um jogo de representações visuais que a roupa constrói, gerando uma moda que se reinventa e se faz circular.

            Para Maria Helena Pontes, a moda é um modelo de representação a ser seguido, se liga a outros assuntos na tentativa de construir significações, ou fazer uso delas uma vez que as significações já foram atribuídas às pessoas anteriormente. Os símbolos da moda transmitem muito mais que as roupas em questão, exibindo-se como um modelo de referencia de uma época, modelo de valores que se oferecem á identificação como modelo ideal de estilo de vida.

            Através de roupas, sapatos, acessórios, maquiagens e comportamento uma pessoa pode usar sua aparência em postagens relatando o dia a dia da sua vida e projetando suas ideias e valores. Cada blogueira expressa seu ponto de vista e a forma como se constrói através da moda, transformando sua rede social em um espaço que expressa sua própria identidade, espaço que se torna uma mediação entre as tendências da moda e a construção de uma moda de múltiplas referências e identidades construídas diariamente por pessoas comuns.

No artigo Influenciadores digitais: o Eu como mercadoria da pesquisadora Isaaf Karhawi, é retratado que a noção de influenciador digital passou por novas roupagens , desde prosumidor (neologismo criado com a junção dos termos produtor e consumidor) até curador de informação.

Shirky, em seu livro “A cultura da participação” (2011), fala sobre a possibilidade oferecida pelas mídias sociais digitais de um internauta ser também produtor, a revolução esta centrada na inclusão de amadores como produtores, em que não precisamos mais pedir ajuda ou permissão a profissionais para dizer coisas em público.

Um influenciador produz com frequência e credibilidade conteúdos temáticos, neste processo, ele deixa de ser um internauta comum e passa a ser encarado como uma mídia autônoma, uma marca.

Ainda para Isaaf Karachi, as blogueiras de moda são precursoras desse novo estilo profissional na área da comunicação, além de levar informações sobre moda e beleza para pessoas afastadas dessas informações que são típicas por revistas especializadas da área, elas também constroem comunidades de leitores e seguidores que confiam em suas opiniões. As pessoas se tornam cada vez mais próximas e humanizadas de toda a informação com a qual tem contato diariamente.

Roberty Henry Srour em Ética empresarial: a gestão da reputação”, explica que a reputação esta diretamente ligada à confiança coletiva, “à legitimidade que se conquista pelas políticas praticadas ou pelas ações cometidas”, pontua o autor. As mídias sociais e digitais facilitam os processos de reputação, pois permitem moldar as ações praticadas no espaço digital de acordo com as imagens de si que se pretende divulgar.

            A pergunta que pauta todas essas questões é bem simples; Por que nos interessamos pela vida e imagem do outro? Quem ampara esse modelo de influenciadores? Estamos falando da mesma sociedade que posta e curte selfies, que faz publicações do almoço, do jantar, da academia que frequenta. Para Karhawi, essa é uma sociedade baseada na imagem e na repercussão dessa imagem no ambiente digital.

            Empresas procuram influenciadores para conquistar os públicos e os influenciadores também procuram marcas que lhe agreguem valor. É importante ressaltar que o trabalho de influenciador é uma união entre duas marcas, por essa razão a liberdade de criação é essencial quando se trata de produtores de conteúdo digital e não com modelos e celebridades.

            Os influenciadores são mídias autônomas e têm uma imagem de si construída sobre uma estrutura sólida de reputação e legitimidade no espaço digital. Eles se aproximam mais do consumidor, o que representa melhor a era globalizada, é a representação de um novo tempo, uma nova comunicação de moda.

Dos tapetes às passarelas

Por Bárbara Mandarano

Filho de dona Maria Lucia e do senhor César, Jean Felipe Lemos nasceu na cidade de Passos, mas foi em Carmo do Rio Claro, sudoeste mineiro que viveu maior parte de sua vida. Hoje aos 30 anos conhecido como Jean Honoratto, elx conta que adotou esse sobrenome artístico, pois além de combinar com sua personalidade é o nome de sua bisavó materna.

Jean é modelo e se classifica como uma pessoa sonhadora, dispersa, extrovertida e cheia de atitude. Sua cor preferida é verde e odeia chocolate.

Com o pai morando e trabalhando no campo, Jean comenta que foi criado por sua mãe e tias e teve uma infância perfeita. Brincar na rua com os amigos era comum, essa é uma das vantagens de viver em cidades pequenas do interior mineiro, elx ainda conta que alternava os dias das brincadeiras, brincando com as meninas de boneca e com os meninos de bola e carrinho de rolemã.

O modelo afirma que desde criança sentia o lado feminino e masculino em todas atividades que desempenhava e também se recorda das piadas de mau gosto que sofria naquela época, o que na verdade já era o preconceito escondido atrás de brincadeiras.

Jean se lembra que muito cedo os pais já o poupavam dos comentários maldosos que sua comunidade fazia em relação a sua identidade, e conta que eles sempre foram protetores e não queriam que Jean sofresse, pois já sabiam da crueldade das pessoas.

Muitas são as recordações de dona Maria Lucia comprando Barbie e confeccionando roupinhas para as suas bonecas, sua família sempre o acolheu com muito amor e aceitação. Jean circulou em vários espaços com muita liberdade, espaços considerados de meninas e de meninos pela sociedade, praticou karatê, futebol e também dança e teatro.

Ainda na infância elx nos conta que não era muito bom no colégio, mas estava sempre envolvido nas atividades artísticas e nessas sempre foi destaque. Jean também se recorda da gozação dos colegas quando levava a boneca Lala dos Teletubbies para brincar no recreio, e fala da situação com muito humor:

“muitos colegas me zoavam pela Lala, mas com todo meu trabalho de manipulação fiz com que todos aqueles que me zombaram brincassem com ela”.

O modelo conta que sempre gostou de dar close e se exibir, não importava onde, certa vez decidiu ser coroinha da igreja só para desfilar durante a missa passando pelo tapete até o altar.

Essa característica de estar sempre em evidência, participando de peças de teatro da escola, desfiles de concursos de beleza da comunidade mais tarde resultaria nos caminhos profissionais. Entre vários concursos surgiu a oportunidade de participar de algo um pouco maior, um concurso da Elite Model onde Jean pode fazer seu primeiro book, elx não venceu o concurso, mas a experiência valeu muito a pena para alavancar a carreira.

Na juventude Jean decidiu estudar moda e foi na faculdade que aprendeu que moda é comunicação e entendeu que poderia expressar tudo o que sentia, e foi naquele espaço que elx percebeu que o menino considerado estranho por sua comunidade poderia se transforma em uma mulher maravilhosa. Dentro do espaço acadêmico muitos trabalhos eram apresentados em formato de desfile e Jean já era selecionado pelos colegas para se apresentar.

Um acontecimento que marcou a vida e carreira de Jean Honorato foi a relação de amizade que fez com o fotógrafo João Cássio que na época estava começando na área e precisava de um modelo para ganhar experiência e montar seu portfólio.  João divulgava seu trabalho no saudoso Orkut, e através dessa divulgação uma agencia contactou Jean para um teste.

A partir daí começa oficialmente a vida de modelo de Jean, muito trabalhos sem cachê e somente em troca de divulgação, muitos “nãos” e portas na cara, mas nada disso foi motivo para fazer com que o modelo desistisse do sonho. As coisas começaram a acontecer e com um contato aqui e outro ali Jean foi ganhando experiência e visibilidade na carreira e no ambiente de moda.

Jean sempre soube das dificuldades que encontraria, mas nunca desanimou em continuar tentando, elx afirma que foi muito gratificante todo esse processo, e desabafa: “eu amo o que faço”.

A androginia se fez presente em toda vida de Jean, mesmo quando elx não sabia o que significava. No livro Fashion Culture and Identity, autor Fred Davis explica que a verdadeira androginia envolve uma fusão ou mutação dos itens específicos de vestuário e aparência, algo que destrói qualquer representação do sexo biológico de uma pessoa. Em outras palavras, para além das características biológicas visíveis, vestuário e outros acessórios utilizados pela pessoa teriam “nada a dizer” a respeito da questão de gênero ou papel sexual.

Em um de seus primeiros ensaios ainda menino, Jean se lembra de usar uma maquiagem super carregada e se identificava pela primeira vez com a imagem andrógina que enxergava.

Ao ser questionado sobre sua aparência andrógina, Jean declara “Sim, eu me sinto totalmente andrógino, sempre tive essa liberdade fluida (não binária) que me permitiu transitar pelos dois lados da moeda, e foi através da moda que tudo isso foi possível”.

De acordo com a pesquisadora Letícia Abraham no site do programa Bem Estar da GNT, o movimento genderless, que significa não possuir identidade de gênero, se manifestou na moda por meio de peças, como a calça boyfriend e a skinny, que servem tanto para homem quanto para mulher, ela ainda afirma que “vivendo uma vida genderless a sociedade fica muito menos preconceituosa, as pessoas podem ser mais felizes, mais autênticas”.

Para Jean a moda sem gênero prega uma forma de se vestir livre de preconceitos, “aprendi a entender meu corpo e isso é o melhor de mim” declara o modelo.

O modelo tem uma forte relação com as roupas, para ele a roupa comunica e reflete a personalidade, através dela ele pode se expressar diariamente. Elx explica que através de suas roupas é capaz de seduzir, se empoderar ou ser romântico e frágil dependendo do seu estado de espírito.

“Eu amo me produzir e sentir qual a vibe do meu dia, se estou a fim de assumir um personagem ou simplesmente expressar o sentimento daquela ocasião.

Normalmente sou ousado, gosto de exageros, como ir a padaria de salto alto, eu amo, me sinto bem” afirma Jean. Para elx o importante é se divertir e se sentir bem através de suas roupas.

Quando o assunto é sobre ídolos, Jean diz que tem muitos, porém seria injusto não eleger a Diva Beyoncé como a número um de sua lista. “Ela sempre vai ser um ícone, símbolo de representatividade pra mim, uma mulher negra, feminista, talentosa, consagrada por todos e respeitada pelo seu local de fala”, explica o modelo.

Mulher poderosa e dona de si, Beyoncé é uma das maiores inspirações para o modelo, elx conta que tudo que aconteceu em sua vida teve uma trilha sonora da musa.

Em tempos de pandemia e com os trabalhos todos adiados, Jean tem usado seu tempo recluso para refletir sobre várias questões e entre elas a importância de seu papel dentro do coletivo que representa.

É um momento onde a diversidade esta conquistando cada vez mais espaço, “as pessoas estão entendendo a importância que é ter uma bicha preta com seu black armado dando close”, declara o modelo.

Jean foi convidado recentemente a participar do Miss Gay São Paulo , a primeiro momento ele pensou que aceitando seria uma incrível oportunidade para sua carreira e para enaltecer seu ego, mas logo depois se deu conta da importância de sua representação na participação desse evento. Ele ainda garante que esse é um concurso que envolve uma questão social fundamental em apoio a causa LGBTQIA+.

Entre muitos projetos pós-pandemia que Jean almeja, conseguir o título de Miss Gay São Paulo, Miss Gay Brasil e o tão cobiçado Miss Gay Universo são as maiores metas e ambições. Enquanto isso ele aproveita pra se dedicar aos estudos, cuidar do corpo e da mente para estar preparado para tudo que vem pela frente, e deixa escapar que um suposto relacionamento pode firmar.

No ultimo domingo 17 de maio foi dia Internacional contra Homofobia e Transfobia, data que se tornou simbólica por ser sinônimo de luta pelos direitos humanos e pela diversidade sexual, contra violência e o preconceito. Perguntamos a Jean o que essa data simboliza em sua vida e história. O modelo desabafa:

“sabemos que se assumir não é fácil, o conflito começa dentro de você e dentro de casa, o que não foi o meu caso, mas é o da maioria. Não há nada mais libertador do que poder ser quem se é de verdade, sem máscaras e sem amarras, a vida é uma só pra se limitar e se esconder”.

Jean assegura que a comunidade LGBTQIA+ move e motiva a resistência e encerra desejando amor e vibrando pela diversidade.

A (Trans)formação da Moda

Por Caique Jota

Vocês já se questionaram quando o padrão da Moda que conhecemos hoje foi dividido entre o que é Feminina e Masculina? Existe uma explicação histórica e preciso dizer, culpem a Revolução Francesa!

Lá nos anos 1700, na Moda, embora existisse o papel “homem e mulher” estipulado com seus deveres (assunto para uma outra matéria), essa diferença não era dividida nas roupas. As vestimentas eram similares, homens usavam saltos, perucas e camisolas para dormir, a sociedade não via problema algum nisso, diferente do cenário pós Revolução Francesa, onde o Modelo Burguês de Comportamento foi adotado. Esse comportamento estabeleceu a separação do gênero através da Moda, o que a gente carrega até hoje. Será que não esta na hora da gente adotar um novo modelo de comportamento?! This is so 1800s.

Para falar sobre a Identidade de Gênero na Moda, acredito ser importante incluir pessoas que não se enquadram no padrão binário (homens e mulheres cis) imposto por anos, pela Sociedade, então convidei o Gui (@guigrossii) para trocar uma ideia sobre o assunto.


– Gui, me conta quem é você e o que é Moda pra você?

Gui: “Eu sou o Guilherme, a Gui ou a “Grossinha” como me chamam na internet, rs. Tenho 22 anos, moro em São Paulo, capital. Sou formado em Produção de Moda e atualmente trabalho em um e-commerce de moda e estou procurando um espaço na internet onde eu possa comunicar sobre as potencias do meu corpo. Me identifico como uma pessoa não-binária e não me importo com pronomes. O Guilherme ou a Gui são vários/várias em um só́ corpo. Sempre digo que o meu corpo é mutável e estou aberta a qualquer mudança. Viver é não se prender nas amarras da sociedade. Pra mim sempre enxerguei moda como comportamento e comunicação pura, eu decido a mensagem que quero deixar no mundo.”

– Como você explicaria o que é Identidade de gênero pra alguém que não sabe ou não entende?

Gui: “Identidade de gênero nada mais é do que o gênero com que a pessoa se identifica, homem, mulher ou se ela vê a si como fora do convencional, como em não-variedade e variância de gêneros. Pode também ser usado para referir ao gênero que certa pessoa atribui, tendo como base como a pessoa se reconhece como indicações de papel social de gênero (roupas, corte de cabelo, etc.”

– Qual o peso da Identidade de Gênero na moda pra você que vive uma Identidade de Gênero que não é o “padrão” da sociedade?

Gui: “A maior dificuldade em ser uma pessoa não binaria, além do machismo, é claro, é a falta entendimento das pessoas. Me chateia quando dizem que eu estou perdida, eu tenho total noção de quem eu sou. Estou viva e quero ser quem eu puder e quiser ser.”

– O que você acredita ainda faltar na sociedade pra todos pararem de definir gênero pelas roupas?

Sinto que hoje na Moda as pessoas aceitaram e entenderam melhor que no final do dia roupa é roupa, não existe gênero em um pedaço de tecido. Mas continuo batendo na tecla de que estamos muito distantes desse lugar respeitador que todos nós deveríamos ter acesso.

– Você se sente representado pelas lojas/marcas?

Não lembro de não me sentir representado porque sempre enxerguei roupas como elas são: roupas. É importante ressaltar que estou falando de um lugar de muito privilegio por ser uma pessoa magra e ter facilidade em achar roupas que caibam em mim. Mas saibam que setor masculino e feminino não é capaz de aprisionar corpos livres.

– O que você pensa sobre marcas que produzem moda sem gênero? Você acredita que Moda Sem Gênero é o futuro da moda?

Marcas que tem como embasamento a Moda Agênero são marcas que ganham espaço no mercado pela causa, mas não consigo afirmar que seria o futuro da moda. Precisamos conquistar muitas outras coisas ainda e a moda é um reflexo da sociedade, quando conseguirmos aí sim a moda sem gênero ganha vida e espaço.

– O que você acredita ainda faltar na sociedade pra todos pararem de definir gênero pelas roupas?

Como eu disse ali em cima, moda é comunicação pura e um reflexo social, quando nós conseguirmos destruir essa sociedade patriarcal que nos silenciam o tempo todo, assuntos como esses não serão mais discutidos. Eu não luto pelo fim da moda, eu só́ quero uma moda mais justa e que nos aceite. Enquanto a gente não atinge esse lugar respeitador não vamos nos silenciar, não podemos ter medo. Roupa comunica mais do que a gente imagina, roupa (trans)forma. É tão lindo ver um corpo livre e feliz.

Eu não luto pelo fim da moda, eu só́ quero uma moda mais justa e que nos aceite. Enquanto a gente não atinge esse lugar respeitador não vamos nos silenciar, não podemos ter medo. Roupa comunica mais do que a gente imagina, roupa (trans)forma. É tão lindo ver um corpo livre e feliz.”


No Brasil, existe uma luta gigante para todos serem aceitos do jeito que são e todos poderem se expressar como quiserem. Na teoria, todos temos direito a expressão e a existência, porém quando falamos de pessoas que fogem da curva padronizada da sociedade, vemos várias rachaduras no sistema. Vemos que somos o país com mais casos de mortes por conta da LGBTQIA+fobia, somos o país que mais mata pessoas por serem pessoas.

Claro que toda essa luta tem vários outros aspectos, mas a Moda é uma forma da gente mostrar pra sociedade que tá tudo bem sermos quem somos, quem queremos ser, então que tal voltar pra cena fashion de 1700?!

Canais de denúncia contra LGBTQIA+fobia virtual (redes sociais, sites, etc)https://new.safernet.org.br/denuncie

Delegacias – Toda delegacia tem o dever de atender as vítimas de homofobia e de buscar por justiça. Nesses casos, é necessário registrar um Boletim de Ocorrência e buscar a ajuda de possíveis testemunhas na luta judicial a ser iniciada. As denúncias podem ser feitas também pelo 190 (número da Polícia Militar) e pelo Disque 100 (Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos).

Em alguns estados brasileiros, há órgãos públicos que fazem atendimento especializado para casos de homofobia.

Bibliografia

https://sp.cut.org.br/noticias/brasil-segue-no-topo-dos-paises-onde-mais-se-mata-lgbts-4d85

Artigo: Construindo a Diferença, Vestuário e Gênero no Séc  XIX

DIYour Mom – Customiza e fala com: Caique e Andréa

Você já parou pra trocar uma ideia com sua própria mãe?

Eu sempre fui próximo da minha, mas muitas vezes a gente deixou de conversar sobre vários assuntos que são importantes e, hoje, para celebrar o Dia das Mães, convidei minha mãe pra bater um papo, enquanto obviamente, a gente faz umas artes em uma blusa que a Tricoteen me mandou, pra também mostrar que todo mundo consegue fazer alguma customização nas suas roupas pra torna-las únicas.

Por Caique Jota

Como minha mãe nunca mexeu com customização de roupas, eu sugeri que fizéssemos uma parada mais simples, que se a gente errasse, daria pra corrigir tranquilamente, pra tirar aquela pressão de “meu deus preciso fazer certo” dela e a gente conseguir ter um good time, então desenhamos juntos na peça umas linhas abstratas pra ela pintar. Depois disso, com ela empenhada em tornar o desenho bonito, a gente falou sobre a vida dela sendo minha mãe.

Eu não sei vocês, mas eu sabia da vida da minha mãe a partir dos anos que eu tomei consciência, lá entre os 7/8 anos. Antes disso, eu sabia por cima de coisas que ouvia por ai, como o fato dela ter se tornado mãe aos 17, mas não sabia o que isso tinha significado pra ela, não sabia se tinha sido difícil, como isso tinha acontecido, então resolvi perguntar como tinha sido pra ela.

Pra mim foi uma pergunta “simples”, mas pra ela soou como algo “complexo”, louco né?! Pra mim, que nunca fui pai, é só um “me conta ai como foi?”, pra ela é bem mais profundo que isso, afinal, ela teve que gerar uma vida enquanto a dela ainda não tinha sido completamente gerada, ela não era madura e adulta. Eu não consigo nem imaginar o que é ser pai aos 25(minha idade), imagine aos 17?

Ela me respondeu que naquela época, quase 30 anos atrás (tenho um irmão mais velho), ela acabou abrindo mão de muitas coisas, como os estudos dela e uma possível carreira, pra se dedicar a maternidade. Ela sente que demorou pra amadurecer, inclusive, ela costuma dizer que aprendeu junto com os filhos e isso é muito real, porque eu e meu irmão vivemos uma relação de troca de aprendizados com minha mãe, o que pra mim é incrível, porque ela nos compreende e a gente compreende ela.

Quando questionei a ela se ela se “arrepende” ou se deveria ter feito algo de forma diferente, ela me conta que não deveria ter abdicado da profissão dela, que deveria ter feito faculdade, não ter abrido mão dessas coisas, porque ela teve que resgatar tudo isso anos depois. Nessa mesma onda da conversa, eu questionei a “top dificuldade” quando ela foi mãe, mas ela a principio não viu nada como dificuldade, mas como um aprendizado, porque ela não sabia nada e teve que aprender absolutamente tudo e agradece a minha avó por ter ajudado e orientado ela, porque quando você tem apoio tudo fica mais fácil, diz até ser um privilegio, o que eu concordo completamente, são poucas as famílias que tem um ciclo de pessoas se ajudando assim e passando ensinamentos.

Entrando no assunto Sexualidade que eu sempre quis conversar com minha mãe, questionei a ela o que ela sentiu e quais foram as preocupações dela quando eu me assumi gay.

Eu nunca tinha perguntado isso a ela. Me assumi 7 anos atrás e até hoje eu não sabia o que ela tinha sentido naquela momento.  Ela me disse que “mãe sempre sabe, no fundo, quem é o filho”, então desde pequeno ela sabia quem eu era, inclusive, quando eu era pequeno eu colocava uma camiseta na cabeça pra fingir que era cabelo longo então, pra ela, ela sempre soube, porém por ela ter sido criado no meio de 5 homens (1 pai e 4 irmãos) e minha avó também ter a cabeça de uma geração machista, a preocupação dela era eu sofrer, era eu ser mal tratado na família, na rua ou qualquer outro lugar, o que em muitos momentos aconteceu nesses anos.

Ela lembra, até hoje, de uma frase que eu disse quando ela me perguntou se ser gay era realmente o que eu queria, que foi “mãe, se eu pudesse escolher, eu não escolheria isso pra mim”. Ela, naquele momento, entendeu que as coisas não eram tão simples assim, que não era uma questão de escolha e decidiu estar comigo pra tudo e até hoje ela cumpre, ela luta pelas minhas causas, levanta a bandeira e tenho orgulho demais disso.

É natural que as gerações passadas vejam a sexualidade como uma opção, mas isso não é a realidade, sexualidade é uma condição, eu nasci assim e não há o que fazer. Saber que minha mãe aprendeu isso, vindo de uma geração machista, é lindo.

Pra finalizar o papo, pedi pra ela dizer algo para mães que estão vivendo o que ela viveu, que tem um filho homossexual ou que se preocupam do filho crescer e ser gay. Pra ela ser mãe é aceitar, é amar incondicionalmente e que expulsar os filhos de casa, não respeitar, não é ser mãe, mãe é o contrario disso, é ver a pessoa que você gerou e respeita-la. Ela indicou um filme para vocês, chamado “Orações para Bobby” e disse que o filme tem tudo que ela gostaria de dizer, não só para mães, mas para qualquer pessoa, para pessoas aprenderem a tratar outras pessoas bem.

Mãe, obrigado por fazer parte disso, te amo e feliz dia das mães.

Confira o vídeo na integra:

Representatividade negra na moda

O Brasil é o segundo país em população negra do mundo, só perdendo para Nigéria, mais da metade do povo brasileiro descende de povos africanos. No universo da moda assim como muitos outros a figura do negro ainda é pouco representada, e isso tem ligação com racismo estrutural de não associar o negro ao belo e a riqueza. Essa é uma questão que vem passando por mudanças, porém ainda existe um longo caminho pela frente. Matheus Negrão um dos nossos entrevistados dessa edição afirma que quando falamos de representatividade negra da moda, há uma quebra de paradigma da imagem que foi arquitetada historicamente, pois a imagem que os brancos do período colonial queriam passar dos negros foi pensada com objetivo de demarcar posições. Para Janna Dun, também entrevistada nessa edição, os negros estão em poucos lugares de destaque, principalmente no mercado de moda, pois a representatividade branca ainda prevalece.

Por Renan Cardoso


– Matheus Negrão também é nosso entrevistado desta edição, perguntamos a ele sobre a representatividade negra na moda. Como você julga esse cenário sendo uma modelo preta dentro deste universo?

Janna: “Vejo os negros tomando espaço, porém é uma mudança pequena. Tem poucos negros em lugares de destaque, principalmente no mercado da moda, porque a representatividade branca ainda é maioria.

Ganhamos um poder de fala com o avanço das redes sociais, porque gerou uma pressão no mercado da moda, eu como modelo vejo isso a todo o momento. Na maioria das vezes é muito conveniente usar nossa cultura, nossa maneira de vestir, nossos costumes e não colocar nossa gente para representá-los.

Um questionamento que me vem à cabeça é “essa mudança é genuína ou o negro está na moda?”

Como você iniciou a sua carreira?

Janna: “Iniciei na minha cidade natal Miguelópolis, participando de concursos, em um evento tive a oportunidade de conhecer um booker de uma agência de São Paulo, e não pensei duas vezes em ir viver meu sonho. Quando decidi morar em São Paulo eu não tinha dinheiro para arcar com todas as despesas, então tive a ideia de vender marmitas e com esse dinheiro me mudar. Chegando lá, passei 20 dias comendo miojo, para economizar. Andei a pé por 1h30 pra chegar em um casting. Morei em uma casa com 40 meninas. O meu celular era aquele que só fazia ligação, eu não tinha Google Maps, ficava super perdida. Uma vez quase fui parar na “cracolândia”– aloka– . Parava no ponto de ônibus errado… foi babado viu!!! – risos –“

– Recentemente você participou da campanha da Pantene (Unidas Pelos Cachos) qual foi importância de participar desta campanha e qual a relevância social dessa ação para você?

Janna: “Fiquei super feliz em ser uma referência para tantas mulheres, eu tenho orgulho quando alguém olha pra mim e diz: “Muito obrigada por ser quem você é por me fazer acreditar em mim.”

– Aproveitando essa edição de Dias Das Mães, como foi a participação da sua mãe na construção da carreira?

Janna: “Minha mãe sempre me apoiou em tudo, e ela esteve comigo em todos os momentos. Sou muito grata a ela, por cada palavra de incentivo, por acreditar no meu sonho.”


– Como você analisa a representatividade negra na moda ao longo dos últimos anos até os dias de hoje?

Math: “Se mais da metade da população brasileira é negra, e a moda reflete a sociedade o que é atual, por que os negros e a cultura negra não ocupam esse espaço? O que chamamos de belo faz parte de uma construção social que dita padrões, o qual atualmente é o padrão da beleza europeia. A imagem dos corpos negros faz parte de um imaginário social, onde as pessoas ligam a marginalização, violência e muitas vezes algo animalesco. Quando falamos de representatividade negra na moda nós quebramos o paradigma dessa imagem que foi arquitetada historicamente, uso essa expressão porque a imagem que os brancos no período colonial queriam passar dos negros foi estrategicamente pensada com o objetivo de explicar a posição que o negro deveria ocupar socialmente. Sabemos que essa ideia estética ainda existe no inconsciente de muitos, e para a construção de identidade de um negro, principalmente num espaço que envolve autoestima e reflete a sociedade, se enxergar é muito importante para que possa descontruir essa imagem que nos é associada e para que possamos ser vistos na indústria audiovisual, que nos resume em um padrão de pobreza.

O movimento “AfroPunk” e a “Geração Tombamento” vem ganhando cada vez mais força e enaltecendo nossas raízes, nossas cores, nossas texturas, mostrando toda a beleza que existe nos corpos negros e em nossa história que foi apagada. Não é só estética, é um empoderamento!”

A gente trás como entretenimento dessa edição da revista a série Sex Education, o personagem Eric tem uma forte representatividade social na trama. Você acha que a série abordou essa representatividade de maneira plausível?

Math: “Pelo amor de Deus, essa série É TUDO! (Matheus vibra) Todo mundo tem que assistir essa série. Quando falamos de representatividade social ela aborda algumas problemáticas que só quem estuda negritude consegue pegar a importância dessas questões. A fase de descobertas que Eric vive, que é a fase da adolescência, é uma das mais difíceis para um homem negro, porque existe um estereótipo de quem o homem negro PRECISA ser. Evidentemente mais másculo do que o normal, a masculinidade tóxica é muito maior para um homem negro e vemos isso claramente quando Eric decide ser quem os outros esperam que ele seja e repentinamente vira uma pessoa violenta. A maior parte dos amigos de Eric são brancos e isso reflete na forma romantizada que ele enxerga o mundo. O momento que mais mostra a dificuldade de ser um jovem negro é a forma que ele constantemente é trocado por outros personagens brancos. Eric é largado por um homem branco para ir atrás de uma mulher branca, isso reflete muito a solidão afetiva dos negros, onde servimos como muleta para ajudar a solucionar problemas e na parte sexual, mas quando o assunto é afeto e fidelidade a pessoa foge. A série realmente surpreende e quebra um paradigma que gera até um estranhamento em quem assiste quando mostra a aflição de um pai protestante, hétero e negro não sendo violento ao descobrir que seu filho é gay. O pai junto ao Eric protagoniza cenas lindas, então se não assistiu já prepara o lenço. O único ponto de alerta e que precisa ficar claro e que a série deixa isso mal resolvido é a naturalização e a “romantização” do que uma pessoa que comete homofobia e racismo, tenha uma paixão secreta.”

– Você fala em alguns dos seus posts sobre auto conhecimento e libertação, e um post em específico sobre o seu cabelo e sobre aceitá-lo. Como foi e como é hoje a relação de auto amor com seu corpo, pele e cabelo?

Math: “Lembro de ouvir quando eu era criança de que eu não era negro, eu era moreno. E quando você ouve isso e vive o racismo, você passa a enxergar o quanto essa fala tem a intenção de mascará-lo, pois só mostra que a palavra “negro” ainda é ligada a marginalidade. E que família deseja que seu filho tenha essa associação? Eu me tornei negro porque houve uma descoberta, eu tive que pesquisar minhas raízes, quem era meu povo preto e porque eu sofria sem saber, por que as pessoas me enxergavam diferente? Então eu só descobri quem é o Matheus quando eu comecei a estudar e descobrir minha negritude. Desde pequeno eu raspava meu cabelo, consciente ou inconscientemente os negros acreditam que raspando a cabeça estarão mais apresentáveis e mais livres de preconceitos, fica mais fácil para não ser julgado, para se relacionar. Isso foi um jeito de me embranquecer, simplesmente para agradar. Sabemos que quanto mais sua pele for escura, maior o nariz, maior seu cabelo e mais crespo ele for, mais racismo você vai sofrer. Por isso falo que esse processo é um ato de auto amor e liberdade, porque você se livra de todas as algemas que nos prendem de sermos quem somos e não tem nada mais bonito do que ser quem a gente é, sendo real, sem filtros, sem rótulos.”

Apesar dos números indicarem avanço na diminuição da desigualdade racial no Brasil nos postos de trabalho, o trabalho braçal ainda é associado aos pretos. Como você entende essa situação e qual a maneira de valorizar o trabalho de vocês?

Math: “É lindo ver negros ocupando cada vez mais cargos importantes e sendo valorizados. Enxergo essa valorização como uma reparação histórica. Apesar disso é importante ter em mente que quando se trata de racismo não existe uma blindagem. O racismo não poupa seus alvos, não importa sua posição social, reconhecimento intelectual, até o maior elemento de status, quando se relaciona com o negro, é questionado. O trabalho braçal ainda é associado aos negros porque essa imagem ainda está presente no imaginário social. Por ser parte de uma estrutura, a desconstrução de cada um é individual, eu não posso fazer isso por ninguém, por isso que a consciência é importante.

A partir do momento que as pessoas criarem um entendimento sobre esse assunto a valorização do trabalho de um negro passa a ser natural, pois existirá uma lucidez social de que para um negro estar onde ele está foi muito mais difícil do que para um branco que tem seus privilégios.”

– Aproveitando nossa edição de Dias Das Mães, você gostaria de deixar alguma mensagem para todas as mães e para a sua nessa data?

Math: “Sim! Eu arrisco definir (se é que é possível) o que é ser mãe em duas palavras; amor e força. Seja quem for que faça o papel de mãe em nossas vidas precisa ser valorizada, não existe nada mais puro e bonito do que o amor de mãe.

Em especial gostaria de deixar uma reflexão e mensagem para as mães negras. Historicamente sabemos que as mulheres negras sempre cuidaram de crianças que não eram suas filhas e que seus filhos acabavam ficando em segundo plano, então para uma mulher negra e que tem o papel de mãe, a vida sempre foi mais difícil, pois além de educar os seus, tinham que educar e dar o afeto para o filho dos outros. Queria agradecer a todas as mães negras, pela força, pois não é fácil educar e empoderar filhos negros em um país racista, sempre preocupadas com o sofrimento de ver seus filhos passarem pelo processo de racismo e em saber que seus filhos têm muito mais chance de morrer apenas por serem negros. Então, deixo meu carinho e amor especial a essas mulheres negras que trazem consigo um amor incondicional pelos seus filhos e pelos demais que se tornam filhos do coração, mesmo elas sendo injustiçadas e desvalorizadas. Que essa data além de causar reflexão seja uma data de amor.”