Atualmente a moda vem desenvolvendo relações com questões políticas e sociais, refletindo, repensando as estruturas da sua indústria, levantando bandeiras e representando lutas das minorias e grupos políticos.
Ainda assim a moda tem um histórico tumultuado, com envolvimentos em escândalos no que diz respeito a exploração de trabalho, questões ambientais, invisibilidade e exclusão de grupos sociais, o que coloca toda sua politização em questionamento. Mas como tudo tem dois lados, vamos reforçar aqui o que temos de positivo e usar essa ferramenta tão grandiosa de comunicação pra trazer o dialogo que a moda pode nos proporcionar com as micro políticas.
É essencial fazer micro políticas na moda, começando pela cadeia de produção através da transformação nas suas relações trabalhistas e a exploração de recursos naturais, por exemplo, isso já é um primeiro e grande passo.
Não colaborar com marcas que financiem o trabalho escravo e sim que valorizem o trabalhador que esta por trás da produção daquelas roupas, sempre procurar se informar de onde estão comprando suas peças. A micro política esta no simples fato de produzir sua própria roupa, participar de trocas, feiras, brechós e acima de tudo promover sempre o dialogo.
A moda é uma ferramenta de comunicação e além disso movimenta grande parte do mercado financeiro do nosso país e do mundo. Como não inclui- lá como objeto político institucional? São os pequenos diálogos que vão trazer as grandes mudanças que a moda precisa e afastar este estereótipo raso e rodeado por futilidades que a permeiam.
Se há algo em que todos concordamos no mundo da moda, é que a moda sempre se recicla, quer queiramos ou não. Ao longo de 100 anos, a moda mudou dramaticamente, mas também manteve as tendências do passado muito vivas.
Começando com as tendências de 1950 e mais tarde revivendo em um estilo mais moderno no final dos anos 2000, a moda está em uma onda interminável de mudanças e renascimento.
Para homens e mulheres, a moda está ligada à identidade. Hoje em dia roupas são usadas para nos expressarmos, você é o que você veste. Existem muitas maneiras diferentes de se vestir e estilizar que podem ser inspiradas pela mídia, impressão ou qualquer coisa do passado. Como estamos sei que todos estamos ansioso para 2021 (ninguém mais aguenta 2020), podemos supor uma mudança na moda e nas escolhas da moda em geral, como o fim do tie dye, que amo, mas acredito que ele não vai resistir por muito tempo.
Para alguém entender a moda em seu estado atual, é preciso conhecer e valorizar a história das tendências da moda ao longo das décadas, então bora ver como tudo foi mudando?
1950s
O estilo que dominou essa década no armário feminino foi algo apresentado no fim da década de 40, pelo Christian Dior, chamado “new look”. Durante a década, o modelo criado pelo estilista foi popularizado e se tornou a cara da moda feminina dos anos 50. Já na moda masculina, surgiram nomes como o de Marlon Brando, Elvis Prestley e James Dean, que influenciaram os homens da década a deixarem um pouco de lado a formalidade diário de usar terno e gravata e passaram a usar algo mais despojado, como camiseta branca e jaqueta de couro, estilo esse que teve como inspiração os homens trabalhadores comuns e não a elite que priorizada a formalidade.
1960s
Os anos 60 foram um momento de destaque na história americana. As pessoas mais notavelmente se lembram dessa época por sua contracultura e mudança nas normas sociais usando roupas, drogas, sexualidade e educação, para citar alguns. Francamente, as pessoas queriam sua liberdade individual, e a única maneira de conseguir isso era rebelando-se tanto socialmente quanto artisticamente.
Nesse ano surgiu mais um Movimento Hippie, para mostrar oposição ao sistema e lutar por liberdade. Tie-dye se tornou bem popular, a galera fazia tie-dye em tudo (parece familiar?). As mulheres eram descorajadas a usar calças. Jeans eram considerados inadequados e, portanto, as mulheres usavam saias e vestidos fluidos.
1960 também ficou conhecido como o ano da Gola Alta. Se pensarmos nos dias de hoje, não conseguimos entender como usar uma blusa de gola alta poderia ser um símbolo de rebelião fashion, mas a sociedade da época “cobrada” que os homens usassem gravata ou lenços no pescoço e usar uma blusa de gola foi uma forma de ir contra o que a sociedade pedia.
1970s
Calças de sino, casacos de pele e estampas de flores, os anos 70 foram uma década cheia de mudanças. As mulheres estavam recebendo mais liberdade e liberdade econômica e a exploração do espaço sideral era algo possível.
No que diz respeito ao mundo da moda, as roupas costumavam ser inspiradas na música e nos filmes de Hollywood. Os músicos populares da época eram The Grateful Dead, The Rolling Stones e Led Zeppelin, que levaram a moda a ficar presa no movimento hippie.
A calça boca de sino ainda era a principal tendência associada ao movimento do “amor livre”. Além dessa tendência da moda altamente reconhecível, os cabelos estavam ficando maiores e as cores mais brilhantes.
Calças estampadas xadrez, mini-saias e qualquer coisa estampada de flores podiam ser encontradas no armário de todos.
1980s
Se houve um momento em que a tecnologia começou a mudar a sociedade, foi a década de 80. O computador para uso pessoal da IBM foi lançado, o primeiro ônibus espacial decolou e a música estava decolando em outra direção com o desenvolvimento de videoclipes.
A cultura popular daquela época girava em torno da MTV, pois era a primeira vez que videoclipes eram lançados. Alguns dos melhores videoclipes dos anos 80 vieram de artistas pop como Michael Jackson, Madonna e Prince. Eles foram vistos em todos os lugares e seu estilo influenciou toda uma cultura.
O início desta década deu continuidade aos estilos de roupas do final dos anos 70 e, no final da década, a moda do heavy metal estava na moda. Algumas tendências de roupas significativas foram ombreiras, jaquetas jeans, calças de couro e macacões.
1990s
Os anos 90 abriram caminho para o mundo da moda, inegavelmente. Movimentos como grunge, rave e hip-hop se espalharam pelo mundo e influenciaram a moda entre as pessoas. Além desses novos movimentos, houve a introdução da televisão a cabo e da rede mundial de computadores.
A cultura popular teve uma influência considerável na moda, principalmente nos anos 90. As pessoas estavam constantemente consumindo mídia por causa da recém-descoberta internet e se mantiveram na moda assistindo e se inspirando em tudo que aparecia, desde vídeo clipes da Nirvana e Green Day, até filme como As Patricinhas de Beverly Hills.
2000s
O novo milênio. Quase tudo neste momento foi influenciado pelo surgimento da Internet. A comunicação estava em alta com smartphones, sites de redes sociais, câmeras e outros dispositivos eletrônicos. A influencia para os fashionistas da época vinham de vários lugares, incluindo os clipes musicais que assistíamos na MTV, até filmes que assistíamos no Disney Channel. Existiam algumas pessoas se inspirando na Kelly Clarkson e outras Rihanna, Britney Spears, Justin Timberlake, J-Lo, Ashley Tisdale. Os anos 2000 foi um ano louco.
2010s
A moda dessa época (basicamente a moda de ontem) está redefinindo as décadas de 1980 e 1990. Muitas tendências da moda permaneceram populares, como moda alternativa e visual grunge. A cultura Hipster também mergulhou no mundo da moda com jeans, cardigans, óculos redondos e camisetas impressas.
Esta década é sobre a representação de diferentes subculturas. Tudo, desde o streetwear hip-hop à moda contemporânea, pode ser visto por qualquer pessoa nas ruas.
A moda dos anos 2010 passou a incluir todos, a distinção de gênero através das roupas começou a caminhar para um lugar onde deixou de ser importante. É mais uma indicação de como a moda mudou ao longo dos anos. À medida que continuamos a crescer como sociedade e economia, a moda também evolui e muda. Segure suas melhores peças porque, até onde você sabe, elas podem ser a tendência mais quente nos próximos anos.
2020s
Que ano louco estamos vivendo. Acredito que ninguém imaginava que esse ano traria uma situação tão diferente do que estávamos acostumados.
Na Moda, todo o cenário foi bastante influenciado pelo vilão principal do ano, a Pandemia do Covid-19. Muitas coisas aconteceram, muitas marcas foram afetadas, muitas lojas fecharam, a doença abalou extremamente todos os setores da economia mundial e obviamente a indústria da moda não ficou fora dessa.
Nesse ano, além de símbolos de movimentos do passado terem voltado, como o tie-dye (literalmente tudo tie dye, como nos anos 60) e as calças mais amplas usadas por ícones como o Harry Styles, que existiram nos anos 70, também inserimos no nosso guarda-roupa, inicialmente por uma questão de saúde, as mascaras, que é um símbolo do combate a pandemia que estamos vivendo.
Muitas empresas viram as máscaras como uma oportunidade comercial e por conta disso muitas pessoas passaram a consumir essa nova peça visando não só a questão da preservação da saúde, mas também o conforto e o visual estético. Ainda é cedo para dizermos o que, de fato, é o símbolo visual fashion dessa década que acabamos de entrar, mas tenho quase certeza que todos vão lembrar desse momento que tivemos que nos adaptar.
Nascida da necessidade de novas perspectivas surge Miranda Luz. Uma travesty multiartisteira, sagitariana perdida em seus constantes processos de desenvolvimento em vários seguimentos de arte, sempre pautando e relacionando sua vivência e experiência enquanto uma mulher trans negra.
Miranda Luz, talvez meu nome logo entregue minhas prospecções de mundo, talvez não, já que tenho muitas. Falando em muitas, já nem sei qual de mim que aqui fala, já que nesse momento de isolation (playingSolitabyKaliUchisonthe background) perdi as contas de quantas vezes já me desfiz e me refiz, sempre na busca da melhor versão de mim mesma.
Já sabemos as dificuldades em ser artista no Brasil, a desvalorização, a falta de respeito e em muitos casos a falta de acesso, então imagine ser multi?
Modelo, stylist, redatora, roteirista, diretora criativa, aspirantes a arte plástica e direção executiva e nesse momento de quarentena gravando um curta onde dirijo, roteirizo e atuo.
Movimentos e segmentos esses, que vem de uma necessidade de materializar questões básicas e pessoais como relações familiares, processos de TRANSformação e processos criativos. No fim todas essas artes/loucuras se encontram, se conectam e contam uma história: A minha história.
Como a primeira travesty da história das edições do São Paulo Fashion Week a assinar styling nas edições do evento, me vem várias sensações relacionadas à realização pessoal, ao mesmo tempo que me traz vários questionamentos referentes às oportunidades que nos são oferecidas, no caso não são oferecidas. Além de falar sobre a higienização da população dissidente e a farsa de um imaginário que projeta pessoas trans com “passabilidade”, além claro da redistribuição de acesso, num movimento onde não ocupemos apenas funções subalternas e tenhamos espaço de desenvolver profissionalmente, na prática.
Tudo isso pensando e questionando a necessidade de discutir e promover políticas públicas e afirmativas voltadas para essas comunidades, com urgência.
Já como modelo, meu discurso se direciona para pautas como o preterimento da população negra e/ou trans no mercado fashion.
Apesar dos movimentos de engajamento social estarem a todo vapor na mídia mundial, ainda vemos a moda apegada no padrão colonial, onde corpos negros e/ou trans são solicitados para não perder o hype ou por pressão das mídias.
Partindo pro pessoal já me vi em set onde ouvi da equipe, que minha contratação se devia ao fato de não poder falar sobre determinado assunto sem uma referência negra. Detalhe que eram três modelos contando comigo, e somente eu de negritude.
Além de inúmeros problemas referentes á peças pensadas historicamente apenas para corporalidades cis, onde senti meu corpo e minha identidade invisibilizada. Sim, apesar de grata, considero o mercado atual como cruel e mesquinho. Esquecendo de valorizar o que realmente importa, que são as pessoas, suas diferenças e individualidade.
Como redatora, tenho me explorado ainda mais. Nesse processo novo e de várias descobertas, tenho buscado e entendido novos discursos, revendo os meios de comunicação e buscando relatar e dar espaço ativo para vivências de outros jovens artistas. Compreendendo o poder das palavras e entendendo formas de me expressar por meio desse formato, até então não explorado totalmente.
Cheia de vontades e ambições, tenho me satisfeito e me ocupado com a criação desses novos formatos de linguagem e expressão. Como fazer soar mais pessoal? Como transmitir uma forma pessoal de expressão de linguagem?
São questões que se misturam com a vontade de retratar experiências associadas a minha vivência pessoal. Bem megalomaníaca, eu sei!
Além de estar no processo de aprendizagem em noticiar movimentos do mercado de moda no mundo atual, de uma visão jovem e didática. E mais uma vez na busca de ocupar espaços historicamente negados e redistribuir esses acessos para minha comunidade.
Sendo uma travesti preta, vejo que os desafios são maiores e que os espaços me são duplamente negados, ainda mais quando se trata de ocupar cargos de poder. Tendo eu que desenvolver constantemente mecanismos de inserção e a partir disso trazer comigo pautas de redistribuição de acessos dos espaços culturais e empregabilidade formal para população trans.
A gente não pode esquecer que ARTE É POLÍTICA!
Sobre o documentário rs, vou disponibilizá-lo em breve por aqui
De acordo com o podcast Pivô da Revista Elle em uma citação sobre o significado de política segundo Aristóteles, a definição da palavra na sua raiz tem o objetivo de trabalhar para o bem comum e é uma ferramenta para contribuir na felicidade e na vida em sociedade. Política não é só discurso, ela engloba ações que de fato fazem a diferença.
Com a onda de protestos e manifestações antirracismo em homenagem a George Floyde nos Estados Unidos, a internet a partir de noticias e conteúdos em redes sociais, promoveu uma mobilização em apoio ao movimento. A hashtag #BlackoutTuesday tomou conta das redes sociais na primeira terça-feira (02) do mês de junho, as postagens foram expressões de solidariedade ao Black LivesMatter, que vem despertando ações de luta contra o racismo em toda a América.
No Brasil, a discussão da questão sobre o racismo é bem peculiar, para muitas pessoas este debate só surgiu na mídia neste momento, em 2020, uma delas na premiação de Thelma, participante do Big Brother Brasil e com a recente morte de George Floyde.
No entendimento de alguém com a mente sã, tudo isso parece bastante bizarro e surreal, se tratando de um país em que 56% da população é formada por pretos e pardos. Esse é o percentual de pessoas que se declaram negras no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE.
Na maioria das vezes as discussões sobre o racismo não acontecem nos contextos familiares, nas escolas e nem são apresentadas nos veículos de massa, o que dificulta bastante o desenvolvimento do tema, que precisa de debates pontuais para acontecer no cotidiano. E um problema sério do Brasil é a comoção seletiva, foi preciso morrer um homem negro nos Estados Unidos, para que o brasileiro fosse dar importância e atenção aos dados do mapa da violência. Os dados no Brasil são cruéis, em 2017 demonstraram que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.
E qual a relação da moda com tudo isso?
A começar pelo fato de ter se apropriado ao longo da história da cultura negra sem nunca ter “pagado” por isso. Empresas, marcas e pessoas de diversos segmentos se posicionaram a respeito do assunto, incluindo as marcas de moda. É preciso tomar muito cuidado com os posicionamentos rasos nas redes sociais para não cair em discurso superficial sem ações concretas para luta contra o racismo.
É necessário muito mais do que pronunciamentos solidários ou uma nota de repúdio ao racismo, é fundamental compartilhar compromissos que precisam estar sólidosno cotidiano das empresas/marcas e essa deve ser uma ação contínua que fundamenta a cultura e o compromisso da empresa no dia a dia, a partir de forma mais realística, enaltecendo a verdade. Se isso não acontece, o posicionamento se transforma em apenas um discurso midiático, o que não contribui em nada com a prática das ações.
Utilizar a visibilidade e dos privilégios através de doações foram uma das maneiras que marcas, estilistas e grupos de moda reagiram ao movimento. Mas ainda assim a indústria da moda tem pouco compromisso com a realidade e não promove mudanças.
De acordo com Marina Colerato coordenadora do site Modefica em entrevista ao podcast Pivô, “a moda precisa estar a serviço das pessoas e não do capital, o que não significa não fazer negócios ou não ganhar dinheiro, significa de forma bastante simples não colocar o dinheiro acima de tudo e de todos.”
Para a pesquisadora e consultora de estilo Renata Abranchs, o racismo da moda não é uma questão do quão sensível nós somos diante das dores das pessoas negras, mas do quanto somos capazes de mover as estruturas da nossa indústria.
É muito importante ter pessoas negras trabalhando nas empresas, para fiscalizar, cobrar e promover mudanças, quem sente essa dor é quem passa por ela na pele, quem é branco nunca vai entender. É preciso mover as estruturas de forma definitiva.
Os símbolos da moda
De acordo com a matéria “Vestir é Político”, da organização Fashion Revolution Brasil para a revista Carta Capital, existe uma necessidade de autoafirmação que se estruturou na Idade Média e se materializou no Renascimento com a rivalidade entre classes, a realeza limitava e proibia o uso de algumas peças e materiais por outras classes sociais, criando assim a idéia de exclusividade e objetos de desejo, foi essa proibição que acabou diferenciando sua função e poderes na sociedade.
Segundo Lipovetsky, em seu livro O Império do Efêmero (1989), é neste ponto que as classes inferiores, em busca de respeito social, imitavam as classes superiores para que pudessem se tornar pertencentes ou mesmo reforçar a ordem social desigual. A moda, então, pode se tornar um instrumento de reforço na diferenciação e autoafirmação dentro da sociedade.
Vestir é político e as roupas são parte da primeira camada, de cada corpo, que causa a primeira impressão. Independente da mensagem que gostaríamos de passar com o que vestimos, essa mensagem vai chegar às pessoas através das referências que ela já tem.
Podemos dar como exemplo as eleições de 2018, vestir-se de vermelho naquele momento poderia significar uma afirmação de um posicionamento político, mesma sem a intenção. De acordo com a psicóloga e socióloga Eva Heller em seu livro “A psicologia das cores”, a cor vermelha é bastante controversa e intensa, usada em demasia e exposta de forma exagerada, chega a ser incômoda.
A moda pode ser instrumento de manifestação política, no Brasil tivemos um nome de destaque no universo do estilo brasileiro, a estilista mineira Zuzu Angel, personagem notória da época da Ditadura Militar.
Ficou conhecida nacionalmente e internacionalmente, não apenas por seu trabalho inovador como estilista, mas também por sua procura pelo filho Stuart, desaparecido em meio a acontecimentos obscuros da política, protestou através de seu desfile no consulado brasileiro em Nova York e aproveitou sua visibilidade para denunciar as atividades brutais do governo da época.
Vestido de algodão com bordados de desenhos infantis misturando casinhas e flores com soldados, canhões e tanques de guerra. Peça do desfile protesto de Zuzu Angel.
Zuzu Angel sofreu um suposto acidente de carro na Estrada da Gávea, em São Conrado, no Rio de Janeiro. Durante essa semana no dia 15 de junho de 2020, após 44 anos, o Judiciário reconheceu o assassinato de Zuzu Angel pelo Estado, e caberá à União pagar uma indenização às suas filhas.
Outro estilista brasileiro que tem destaque na relação moda e política é o mineiro Ronaldo Fraga, pra ele “o ato da escolha da roupa é um ato político”, afirma em entrevista ao jornal Correio Brasiliense. O estilista explica que tudo o que um criador for fazer ele tem que falar, tem que contar alguma coisa, tem que provocar, “houve um tempo em que ter uma boa modelagem, um bom tecido e um bom desenho bastavam, só que hoje, diante desse mundo caduco em que vivemos desmemoriados, o desafio é falar coisas que te dêem a mão para ir para outro lugar”, explica o estilista.
Modelos apresentam desfile do estilista Ronaldo Fraga em que ele relembra tragédia de Mariana através de suas criações.
Os estereótipos femininos na política
É naturalizada a exclusão das mulheres da esfera pública e, especialmente, dos cargos políticos, vem sendo um fator de legitimação da política como “negócio de homens”. Entende-se que as mulheres não se interessariam pelo debate político uma vez que estariam envolvidas em suas vidas privadas, na esfera doméstica e na maternidade. Uma vez confrontado esse sistema político patriarcal com mulheres que entram para a vida política, as mesma sofrem uma serie de ataques machistas além de serem objetificadas e sexualizadas.
A deputada Ana Paula da Silva, mais conhecida como Paulinha, foi eleita prefeita duas vezes em Bombinhas (SC) antes de assumir como deputada estadual na Assembléia Legislativa foi gravemente criticada em suas redes sociais com mensagem machistas e ameaçadoras acusando a parlamentar de falta de decoro por usar um macacão vermelho ‘ousado de mais para os padrões’ de um ambiente predominantemente composto por homens.Em entrevista para a Revista Marie Clarie, a deputada afirma: “Me senti violentada porque li nas redes sociais pessoas escrevendo que eu não poderia reclamar se fosse estuprada. Os comentários das mulheres foram os que me deixaram mais triste e me deram mais nojo: eram cruéis.”
Deputada Paulinha usando um macacão vermelho decotado da Animale no dia de sua posse.
Outro caso entendendo como a indumentária desenvolve uma narrativa com a política, aconteceu com Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita e reeleita presidenta de um país em que os números de participação feminina na política são vergonhosos. A forma mais comum de sexismo na cobertura é dar atenção a roupas, cabelo e maquiagem das mulheres, enquanto os homens, igualmente maquiados e plastificados, com cabelos tingidos, não sofrem a mesma análise.
O conjunto de blusa e saia rendados offwhite com nuance rosada usado por Dilma na cerimônia de posse, gerou polêmicas e comentários maldososem toda mídia. O estilista Ronaldo Fraga em uma entrevista na época sobre o assunto para o jornal Folha de São Paulo, considerava que a roupa naquele momento era o que menos importava, fez criticas as comparações maldosas dos internautas ao assemelharem a roupa de Dilma com capa de botijão de gás.
Dilma em Brasíliano dia de sua posse
A ex presidenta Dilma Rousseff dentro do cenário político quase nunca conseguiu assumir totalmente sua feminilidade a partir das roupas, em suas escolhas ela conseguia mostrar uma personalidade de pessoa integrada ao meio político, de pulso firme e distante da idéia de identidade feminina e frágil.
Em um estudo da pesquisadora Karla Beatriz Barbosa de Oliveira “A roupa da presidente: uma análise de comunicação pelas vestes”, ela afirma que o ambiente da política é tradicionalmente masculino, e se vê cada vez mais invadido por figuras femininas. A idéia de força, sucesso e poder são necessários dentro deste ambiente, e tal perspectiva faz com que as personagens desta sociedade se modifiquem a fim de se tornarem bem vistas pelos expectadores e futuros eleitores. Sem muita saída, as mulheres identificam apenas duas opções no armário: adotar as vestes masculinas para compor o visual ou assumir literalmente o lado feminino. A escolha está ligada ao comportar-se e refletir a estratégia na política.
Dilma Rousseff usando terninhos
A Moda é utilizada como meio de comunicação, demonstração de poder, questionamentos sociais, quebra de limites e também como um importante instrumento de valorização da cultura, constitui um sistema, uma possibilidade de arranjos entre itens que sejam transformados em um marcador social e não apenas em um ato isolado de se enfeitar.
Todos os ambientes e contextos da moda precisam admitir que ela se estabiliza em solo desigual, por isso todos aqueles que atuam nesse grande negócio e sistema que é a moda, devem agir.
A moda tem grande potência política, mas por muitas vezes vai por vias negativas, porém tem oportunidade de fazer diferente, se organizar, reprojetar e em sua grandeza estar a serviço da sociedade.
Quando a gente pensa em consumo consciente, nossa mente tende a ir diretamente para Moda Sustentável, Eco-friendly, mas e se eu te disser que consumo consciente não é só isso?
A ideia de consumo consciente é trazer informação para nosso Poder de Compra. Por exemplo, quando a gente fala “enjoei das minhas calças jeans, vou comprar uma nova”, não estamos só comprando aquela calça, a gente está fortalecendo a venda de um dos produtos mais prejudiciais ao meio ambiente. Dados da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do Produto, apontam que uma única calça jeans consome 4 mil litros de agua para produção e durante seu ciclo de vida, o que equivale a emissão de 33,4kg de carbono (valor estimado pra uma viagem de carro de 111km).
Um outro exemplo fora dessa questão ambiental é a gente consumir de marcas sem saber quem está por trás dela, as vezes nós estamos fortalecendo um nome que não faz nada de bom para nossa sociedade e ,muitas vezes, vão contra coisas que a gente acredita.
Por muito tempo eu fui a pessoa que não entendia o que era Consumo Consciente e Poder de Compra, até que um dia, no meio de uma ida (totalmente desnecessária) ao shopping, me questionei uma série de coisas, como porque eu compro roupas com tanta frequência e porque eu não consigo entrar em uma loja e sair de mão abanando.
Não sabia a resposta de nada disso, afinal, raramente a gente sabe a resposta pra tudo que a gente se questiona.
Como bom Sherlock que sou, fui investigar o meu Eu. Fui tentar entender o que me motivava a consumir do jeito que eu consumia. Eu não nasci e falei “vou consumir de forma consciente”, muito pelo contrário, eu nasci e cresci dentro de uma família que comprava por comprar, comprava por capricho e não por necessidade, então percebi que o consumo sem controle estava na minha “cultura pessoal”, na minha criação. Além disso percebi que o que contribuiu a tudo isso foi o que eu cultuava na minha infância e adolescência.
Na minha época não existiam séries e desenhos que retratavam o personagem cool comprando em brechó, por exemplo. Muito pelo contrário, em desenhos, filmes e séries, o personagem legal e desejável era descrito como a pessoa que não repete roupas, que tem condições de ter tudo novo sempre, que sai pra fazer compras com seus amigos e, afinal, qual adolescente não quer ser legal e desejável? Eu queria me encaixar nesse padrão, eu queria ser popular, porque o personagem “não popular”, que não tinha condições financeiras, que não tinha como ter o tênis mais novo de todos, sofria por simplesmente não fazer parte do padrão. Eu não queria sofrer e é muito louco a gente pensar em retrospecto e ver tudo que me influenciou a ser como sou, convido todos a fazerem isso.
Quando me questionei sobre meus hábitos de consumo, eu já tinha noção de que não era algo saudável pra mim, mas não tinha criado consciência ainda sobre como isso afetava as coisas ao meu redor.
Um grande aliado da Dúvida é a Informação, então corri atrás dela. Fui atrás de entender o que de fato eu estava fazendo quando ia em uma loja de departamento (fast fashion) e comprava várias roupas. Antes de toda a questão ambiental, eu vi que existia muitas lojas que as questões morais iam pro lado totalmente oposto do que eu acredita. Vi casos de fast fashions envolvidas com trabalho escravo, vi marcas envolvidas em diversas situações racistas e homofobicas. Observei, por exemplo, lojas que no mês do orgulho LGBTQIA+ faziam varias roupas pra homenagem ao movimento, mas durante o resto do ano inteiro, faziam nada. Todas essas informações, ao longo das pesquisas, foram me dando um sinal gigante de alerta e pensei “caramba, investi meu dinheiro em empresas que não fizeram nada de útil com ele, além de criar mais e mais roupas” e ai que entrei na questão ambiental.
Nas pesquisas que fiz na época vi uma coisa que se a gente pensar mais a fundo, é obvio, mas eu não tinha pensado a fundo, né? Eu só queria um look novo. Pois é, nessa de querer um look novo, eu esqueci de pensar que roupas não são feitas de vento, mas sim de algodão e plástico (que utiliza petróleo para composição) e tudo isso, demanda impactos no meio ambiente. Vestir uma camiseta de algodão, não custa só, em média, R$49,90. Custa impactos no solo, por conta de todos os produtos químicos para o plantio, muitas mãos para produção (possivelmente muitas dessas mãos não recebem o valor justo para o trabalho feito), além de cerca de 3 mil litros de agua.
A Industria da Moda não é inofensiva ao mundo, muito pelo contrario, ela foi considerada a segunda indústria mais poluente para o meio ambiente, perdendo apenas para a Industria Petrolífera. Além de processos de produção que prejudicam o meio ambiente, a Industria descarta anualmente cerca de US$500 bilhões de roupas, roupas essas que não são recicladas e vão pra aterros. Ou seja, além de problemas na produção, está havendo, claramente, uma produção desnecessária para o consumo real das pessoas.
A gente, como consumidor, nos tornamos mal acostumados. Para comprarmos algo, precisamos ver 10 variações de uma única camiseta. Queremos opções, quantidade e adivinhem?! Isso é exatamente o que a Industria da Moda está nos fornecendo, porém por conta dessa nossa necessidade, a Industria já não se sustenta, os recursos estão acabando.
“Mas Caique, o que eu faço então? Paro de comprar?”, não, eu não estou falando para você deixar de consumir, eu estou falando para você ressignificar a sua forma de consumo. Se questionar se você precisa daquilo, se você está consumindo de uma loja/marca que faz algo de bom pra sociedade, se questionar se há outras formas de consumo além de ir comprar peças novas no shopping. Eu, por exemplo, parei de consumir de shopping, hoje compro roupas de brechós, customizo roupas antigas, crio coisas novas a partir de coisas velhas, porque além de ajudar uma pessoa ou loja menor, estou dando um novo ciclo de vida a uma peça de roupa, estou fazendo com que todo o processo de fabricação dela passe a valer mais a pena.
A gente precisa olhar para o ato de comprar como um Poder. Você pode fazer a sociedade melhor só por não consumir algo.
Muito tem se falado sobre consumo consciente, desapegar de roupas e acessórios que estão parados em casa é uma ação que vem ganhando força, espaço e influenciando pessoas de todo mundo em um movimento que não pode parar. Para preservar essa prática e levá-la ainda mais longe, projetos surgem mesclando o consumo de moda a um impacto social mais efetivo.
Brechós e bazares tem feito um trabalho de arrecadação de donativos com lucro total ou parcial em beneficio de instituições que ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade. Além da ação de arrecadar fundos, essa atividade contribui para o aumento e consciência no consumo de moda.
Afinal o que é moda consciente?
De acordo com o site Etiqueta Única, a moda consciente é quando o consumidor manifesta em suas compras uma preocupação com questões ambientais e sociais que envolvem a produção em massa, esse consumidor esta em busca de peças que tenham significado.
Já a moda sustentável ou eco fashion, esta ligada a forma como os artigos de moda são produzidos e tem a preocupação em usar métodos de produção que não produzam ou diminuam o impacto ambiental.
Os novos consumidores estão em busca de produtos duráveis, como falamos anteriormente na primeira edição da revista no texto “Hora da Verdade”, a moda sem estação transformaria por completo a indústria, trazendo ao público algo atemporal, um consumo responsável. Classificar a Moda como atemporal exige mais pesquisa, maior profundidade de conceitos, práticas e produtos que mostram que a Moda não deve se desfazer rapidamente com o passar do tempo.
Onde surgiu o primeiro brechó do Brasil?
De acordo com o escritor Antônio Houaiss, em Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a primeira loja de venda de roupas e objetos de segunda mão no Brasil, surgiu no Rio de Janeiro no século XIX, fundada por um comerciante português chamado Belchior. Originalmente, assim eram conhecidas as lojas de roupas e objetos usados que com o tempo acabou se transformando em Brechó.
Em um estudo sobre o consumo de roupas de brechó da cidade de Porto Alegre, a pesquisadora Lígia Helena Krás afirma que é preciso considerar que na Europa, os brechós, ou Vintage Clothings Store, são lojas especificas de roupas e acessórios de época apenas, diferente das Second Hand Store, que vendem roupas usadas sem especificação de épocas.
No Brasil ainda não existe essa diferença clara, a prática do brechó como loja de roupas antigas é muito recente.
Alguns elementos ligados ao que um brechó representa além da origem das peças, são questões relacionadas à sujeira, doença, energia e até mesmo sexo. A origem dessas peças gera questionamento em algumas pessoas que não aprovam a ideia de comprar roupas que não sabem a quem pertenceu pelo fato desse alguém ter morrido visto como algo mórbido, justificando que mesmo lavando as roupas estão impregnadas energeticamente.
De acordo com a pesquisadora Lígia Helena Krás, o preconceito com a roupa não é por ser antiga, mas por ser usada.
Foto: Pinterest
Ela ainda afirma que convém ressaltar que novo, velho, usado e antigo são classificações relativas. Pode ser um vestido novo de 1960, ele será novo se nunca tiver sido usado, essa é a relação do novo com o usado. E pode ser um vestido velho de 2005, se ele tiver sido usado muitas vezes. Sendo assim, é importante deixar claro que o preconceito pelo velho, usado, não deixou de existir, nem mesmo por quem gosta muito de roupas antigas. O preconceito com o antigo existia mais e agora por uma questão de estratégia do mercado da moda, tem diminuído. Antigo se refere a épocas passadas, que pode ser antigo e novo, caso tenha sido pouco usado ou mesmo guardado sem nunca ter sido usado.
Não vale ter preconceito, experienciar brechós pode ser muito interessante além de divertido, vai ter sempre aquela peça perfeita esperando por você. A moda precisa ser pensada de maneira mais consciente, no momento em que se compra uma peça ou quando se descarta, pois vale lembrar que dividimos o mesmo planeta e precisamos nos responsabilizar pelos nossos consumos.