Por Lia Gregatti
Muitas pessoas no período de isolamento social passaram a se interessar e a ter mais contato com as práticas de yoga através da internet de modo geral e principalmente das redes sociais. A cada dia acontece uma chuva de lives de yoga e a promessa que o yoga pode ajudar no sistema imunológico ou a manter uma mente serena e tranquila combatendo a ansiedade durante a pandemia tem atraído cada vez mais interessados. Uma pequena busca sobre o termo yoga e muitos tabus podem ser formados para quem nunca praticou. Geralmente as imagens relacionadas ao yoga são de corpos jovens, magros, flexíveis, fortes e em quase sua maioria brancos. Pessoas calmas, com semblante de plenitude e as posições mais vistas são ou de alguém sentado em meditação ou numa postura bem elaborada com os pés atrás da cabeça ou de ponta cabeça.

Todas essas imagens e abordagens são recursos que surgiram a partir do momento que o yoga se tornou também um objeto de consumo e nesse processo surgiram as marcas de tapetes, acessórios, roupas, cosméticos (geralmente veganos), alimentos e bebidas naturais de custo elevado, trazendo a impressão que é uma prática totalmente elitizada.
Bom, vamos por partes desconstruindo esses conceitos por aqui. Yoga é uma técnica milenar – filosofia – que envolve muito mais que as posturas físicas ou exercícios meditativos, essas duas coisas são só um pedacinho bem pequeno de tudo que envolve o estudo e a prática de yoga. O yoga surgiu na Índia e é uma filosofia relacionada a religião hinduísta (o que não quer dizer que você tenha que ser hinduísta para praticar, você não precisa abandonar a sua religião e pode não ter nenhuma religião inclusive e fazer yoga). Um dos textos de yoga (Yoga Sutras de Patanjali) trás algumas causas do sofrimento humano e formas de diminuir seus efeitos, entre essas causas temos a ignorância, alguns de nossos aspectos instintivos, os apegos, orgulho, medo – principalmente da morte – e aversões (no meu perfil você encontra dois vídeos bem explicadinhos sobre quais são essas causas – Raízes do Sofrimento).
As tão famosas posturas de yoga e a meditação são só dois dos oito meios propostos nesse texto para nos tornamos mais conscientes das causas de sofrimento e consequentemente reduzir a forma com que eles nos atingem no dia a dia. Entre esses meios propostos encontramos princípios éticos e também aspectos físicos, fazendo com que o praticante pouco a pouco possa viver o yoga no dia a dia, levando esses ensinamentos para fora do tapete de prática.
Ok, porque eu falei tudo isso? Para que você que está começando a praticar entenda que o yoga não é sobre corpo, sobre tranquilidade ou calmaria, na verdade a prática vai te levar a sair do modo automático em que vivemos quase sempre impactados fortemente pelos estímulos sensoriais. Por isso não existe um corpo ideal ou um comportamento determinado para que você possa praticar yoga, você não precisa ser forte, magro, jovem, flexível, pertencer a determinada religião, ser vegetariano ou cantar mantras, comprar tapetes caros ou acessórios. Se você tem um corpo, o yoga é para você, vale lembrar que yoga é sobre liberdade, entrega e experimentação.
O que você vive no dia a dia é yoga, como você se relaciona com você mesmo e com os outros. Se sua preocupação é com o corpo físico, tudo bem, comece por ali e aos poucos você vai desenvolvendo flexibilidade, força e conseguirá executar posturas mais elaboradas, não se compare e não se julgue, cada ser tem um corpo, cada corpo carrega uma história, yoga não é uma competição.
Se sua preocupação é em sentar para meditar e por ser agitado ou ansioso não conseguir “parar de pensar” eu tenho uma ótima notícia, isso não existe! a gente só para de pensar quando morre, meditar é perceber essas oscilações da mente, um exercício de ir e voltar a sua atenção para onde se está, aqui e agora. E sim, você pode meditar deitado se quiser você deve estar se perguntando: meditar deitado mesmo se eu dormir? – sim, mesmo se você dormir. Estando numa postura desconfortável além de lidar com as próprias distrações da mente, do carro passando, do cachorro latindo ou daquilo que você deveria ter comprado mas esqueceu (tudo isso e muito mais surge na meditação, rs) você ainda vai ter que cuidar da perna que formigou, da coluna ou do joelho que dói.
Como você pode ver não existe um padrão para ser praticante de yoga, na realidade de todos os tabus que citei lá em cima, o único que não tenho como dizer que não é verdade infelizmente é que yoga ainda é uma prática elitizada pois poucas pessoas tem acesso e isso acontece porque boa parte dos estúdios estão localizados em lugares de alto poder aquisitivo e suas mensalidades são altíssimas, tanto de formação para conduzir aulas quanto para aqueles que desejam praticar. Porém já está acontecendo um movimento muito bacana de professores tornando essa prática mais acessível, levando o yoga para lugares onde inicialmente não chegava e trazendo as pessoas que não tem esse acesso para onde o yoga está!
Ah uma última dúvida que sempre surge, é Yoga ou Ioga, tanto faz também, se você escolher escrever com I use o artigo A, “A Ioga”, se preferir escrever com Y,use O – “O yoga”.
Deixo aqui alguns perfis do Instagram que vale a pena conhecer: @yogaparatodosbrasil @yogacurumin @sobremeditar @yoga_contemporaneo @yogaeciencia @flordaguayoga @yoganamare @perifayoga @joe_lizzzzzz_yoga @vidadeyoga